Sunday, 14 February 2010

Como viver até os cem anos ou o bem-estar da civilização

Você viverá até os cem anos (se você, é claro, não for assassinado, não for atropelado, não ser atingido por um raio, não for acertado por um vaso de flores que caiu da sacada da senhora sua vizinha etc.) – segundo a revista Princípios – se você seguir oito passos: Ter ar puro, tomar água pura, expor-se moderadamente ao sol, ter uma alimentação balanceada, praticar atividade física, descansar, obter um domínio próprio e, segundo eles, confiar em Deus. Mas de que adianta viver tanto sem felicidade? Aliás, o que é felicidade?



Sigmund Freud, o pai da psicanálise, basicamente dividia o conceito de felicidade em duas vertentes. Para uns, dizia ele, ela é a ausência de desprazer; para outros, porém, o excesso de prazer. Ou seja, para uma parcela do grande público bastava não haver situações desagradáveis ou que, pelo menos, não remetessem ao desagradável que estariam felizes. Outra parcela acredita que somente isso não bastaria. Estaria, portanto, relacionada à concretização dos desejos. Nietzsche, sobre o tema, disse certa vez que o homem gosta de desejar mais do que o objeto desejado. É aquela velha história que de tão velha talvez se torne máxima: De tanto querer o determinado brinquedo a criança, antes de ganhá-lo, cria uma expectativa. Ao recebê-lo, perde a “graça”. Ama desejar mais que o objeto desejado.



Há quem diga, também, que a felicidade esteja relacionada ao dinheiro. Quanto mais dinheiro mais feliz se é. Na década de 40, contrariando esse clichê, o cineasta Frank Capra cria o clássico natalino A felicidade não se compra. Na verdade ele não tenta responder o dilema, mas questionar se de fato ser feliz é ter dinheiro. O filme narra a história de um cidadão prestes a cometer o suicídio, ao passo que sua vida fora destruída por um influente banqueiro de sua cidade, mas antes de se suicidar recebe o auxílio de um anjo de segunda classe que o ajuda a pensar se a felicidade realmente se compra. Uma reflexão e tanto.



Na mesma linha de pensamento, o sociólogo Sandro Sell faz, em seu livro Comportamento social e anti-social humano, uma análise no que tange à binaridade dinheiro e o ser humano. Se o ser humano, na expressão de Sell, não é feliz com um milhão, provavelmente também não será com dois ou três milhões. Segue o raciocínio de que o homem é essencialmente, acompanhando a definição aristotélica, social. Não adianta nada ter dinheiro se não se é aceito no seu meio social. Tal afirmação pode ser considerada como verdade se tomarmos o exemplo do novo rico. Ele, ao tentar se introduzir no ambiente dito de “elite”, é, por vezes, tido como “invasor”. Talvez porque não fizesse – anteriormente – parte daquele ciclo ou, como dizem, não é de “berço”.



Outros afirmam que a felicidade está intimamente relacionada ao amor. Aí muda-se o foco e inicia-se outra divagação filosófica: O que é o amor? Se não é possível definirmos, como poderemos, então, conquistá-lo? Amor materno, amor nas coisas simples da vida, amor ao próximo. Gestos simples como forma de se ter - de modo recíproco – amor e consequentemente felicidade. Veja como a felicidade fica à mercê de variados fatores. Dinheiro, amor, amigos, família, prazeres, ausência de desprazeres. Defini-la é colocá-la dentro de um minúsculo espaço de estudo se é que se pode estudar e posteriormente explicar o que se sente. Uma situação delicada. Falando em estudos e voltando para o que a revista Princípios disse, talvez eu não queira viver até os cem anos, mas que eu seja "feliz" enquanto eu viva. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz...”

1 comment:

  1. Leivei essa lá pro blog. Tá muito boa para o feriadão!
    Abraço, Sandro Sell

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