“As cadeias da humanidade torturada são feitas de papel de escritório”
(Franz Kafka.)
São 20h30min, o espetáculo vai começar. Pede-se silêncio. É preciso desligar os celulares. Olhares atentos aguardam ansiosamente o início de uma noite planejada metodicamente para ser divertida.
- Desrespeitável público, sejam bem vindos ao nosso circo! Nesse espetáculo, diferente daqueles que vocês provavelmente estão acostumados, vocês é que serão os palhaços. Aliás, se ainda não perceberam é assim que nós levamos a nossa vida - a única diferença é que no circo nossos artistas usam maquiagem para, pelo menos, mascarar a vergonha que os cerca.
- Os animais que estão enjaulados
aqui também pretendem desafiar vocês com as seguintes perguntas: estariam eles
ou nós presos? O domador de leão também não seria domado pelo grande felino?
Adestrados, seguimos. Mais sofisticados, menos letrados: escondidos por detrás
de nossa rotina, mais uma droga que termina com ina. Com algum pão e circo,
afinal é preciso alimentar corpo e a alma, seguimos.
Com algum desconforto, um senhor olha para o lado. Parece não ter digerido bem a inesperada mensagem. Meio esbaforido, sai da sua confortável cadeira e vai em direção à saída junto com sua esposa. Sem prestar muita atenção, chega em casa quase que, digamos assim, em piloto automático – por repetir o mesmo trajeto há mais de algumas décadas, saberia voltar de olhos fechados para seu lar doce lar. Amanhã, pela manhã, voltará a ser o respeitável ser que sempre foi. Antes de dormir, meditou sobre o ocorrido daquela noite:
- Quanta
palhaçada!
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