Saturday 5 December 2009

Visível invisibilidade

à g.


A voz que não se cala.
O rosto que não se apresenta.
Quem és tu, outro?
Quem são os outros?
Opina, constrói, destrói.
A idade? O tempo? O tamanho?
Julga, pré-julga, não perdoa.

Não sente, não chora, não se apaixona.
Quem és tu, outro?
Quem são os outros?
Ele não é isso, ela não é aquilo.
Coitado do Fulano, Fuja do Ciclano.

Não, é a idade.
Isso mesmo, a idade!
Ahhh, a idade.
Que forte motivo há: a idade.
O(s) outro(s) tinha(m) razão:
O problema é a idade.

Calo-me.
Quem sou eu para digladiar com o Coro?
Ou melhor: Onde está o Coro?
Se ao menos...
Não adianta.

O outro é indiferente, talvez nem seja gente.
Talvez seja gentes.
Fugir?
À francesa, à moda francesa.
Mas logo, antes que o outro me veja...

Friday 20 November 2009

A falta

à m.


As palavras me faltam.
Que angústia!
Logo agora que tanto preciso delas
Elas me escapam.
Somem, desaparecem.
Por tudo o que representou,
Por tudo o que ainda representa.
Faltam-me as palavras.
Faltam-me.
A beleza inocente,
A doçura que não se deixa amargar.
Idas sem rumo,
Voltas sem direção.
Faltam-me as palavras.
Faltam-me.

Monday 9 November 2009

Não seja feita a vontade DELE.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR (ESSE SIM É DOUTOR!) JUIZ JASON DE LIMA E SILVA DA 2ª VARA KAFKIANA DE PRAGA.


Z!, brasileiro, solteiro, artista da fome, sem número do RG e sem CPF, residente e domiciliado na Rua de nome Rua – Planeta Terra -, vem propor a presente ação em face de Deus, situado (aliás, muito bem situado) no céu, pelos motivos abaixo:


Por ser, segundo a bíblia, filho de Deus, Z!, agora maior de 18 anos, ou seja, absolutamente capaz, pretende processar o suposto pai, uma vez que não houve prescrição (Artigo 197 do Código Civil), por abandono intelectual e material quando Z! ainda era uma indefesa criança em fase de crescimento.

Amparado pelo dispositivo legal da Magna Carta – Art. 229 – no que concerne aos seus direitos, Z! pretende ser ressarcido pelo o que lhe fora assegurado no artigo anteriormente citado:

“Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”


Quando ainda não estava metamorfoseado em um adulto, o autor viveu em vários lugares e, ao mesmo tempo, em nenhum lugar. Morou embaixo de pontes, ao lado de viadutos, em meio a praças. Esquecido pelo criador do céu e da terra. Oportunidade, assim como a esperança, era uma palavra que nunca ouvira falar. Saudade? Também não a tinha. Não são somente os norte-americanos que não a entendem, Z! também não a entendia. Também não era para menos. Como o requerente podia senti-la se não havia alguém que se preocupasse com ele?

A sociedade era outro elemento que não fazia parte de sua vida. Vivia à margem dela ou, como diz o dito popular, a Deus dará. Não teve estudo, tampouco aprendeu a ler. Ficava fascinado pela imagem do pequeno príncipe, mas Exupéry era-lhe inalcançável. Havia uma barreira social imensa. Um detalhe que, ao contrário da música de Roberto Carlos, não era tão pequeno assim.

Não brincava, brigava. Não dormia, hibernava. Seu passatempo era esperar passar o tempo. Sub-mundo era um lugar de luxo para alguém que, como ele, não tinha um mundo. Talvez viver fosse de longe a droga mais forte que já provara. O efeito dela era contínuo, ininterrupto. Nem precisou chegar aos 100, 19 anos de solidão já bastavam para saber que nada sabia, nada compreendia do sentido de sua existência. Não lia Camus, mas talvez soubesse, desde cedo, que era um estrangeiro. Indiferente aos padrões sociais que regiam. Incompreendido como Franz Kafka.

Pela manhã não via jornal, não tomava seu leite, não comia sua torrada. Dividia tristes momentos com o seu despedaçado eu. Ele nem sabia que tinha um eu interior. Descobriu ouvindo duas senhoras discutindo sobre isso na parada de ônibus. Tinha uma casa muito engraçada: não tinha teto, não tinha nada (familiar, não?). Feita de papelão, não abafava o barulho dos vizinhos. Berros, gritos, chiados, miados, latidos. Uma vizinhança e tanto.

Um belo dia foi abordado por dois missionários evangélicos. Disseram-lhe palavras encantadoras; que existia um lugar em que ele se sentiria em casa, que preencheria seu vazio existencial com a sapiência de um tal Deus. Vá conosco, sem compromisso - afirmaram a dupla. E assim nosso protagonista foi. De um problema social, tornou-se, pós conversão cristã, aprendiz da bíblia. Aprendeu a ler, a escrever, a se portar de modo, moralmente falando, “normal”. Afirmava conhecer, de fato, Ele.

Ao estudar incessantemente os ensinamentos bíblicos, descobriu que era filho de Deus. Agora entendia o porquê de Sófocles, grande tragediógrafo grego, falar que quanto maior a ignorância, maior a felicidade. Pensou como uma pessoa tem a ousadia de gerar um ser e, depois de um processo complexo, deixá-lo sofrer, sentir fome, frio, sem – ao menos – uma justificativa plausível. Aliás, não existe uma justificativa que explique o abandono. Abandono intelectual, material e, além desses assegurados pelo ECA (Estatuto da Criança e do adolescente) bem como pela Constituição Federal, há o abandono sentimental. O afeto, o carinho, o cuidado etc. Não condiz, com efeito, com o discurso cristão. Onde está, nesse caso concreto, o amor ao próximo? E eu que achava que eram somente as leis é que não saiam do papel.

Angustiado, Z!, ciente de seus direitos, resolveu procurar os meios legais para resolver a situação. Acreditou que dessa maneira fosse poupado da demagogia social que lhe fora ensinada na vida religiosa e, por consequência, fosse encerrada a questão entre Pai e filho. Não é por dinheiro ou vingança, é uma questão de justiça. O autor tinha, na infância, um direito assegurado que não fora cumprido. Agora busca nas vias judiciais o ressarcimento do dano. Assim, o requerente procurou-me.

DESSE MODO,

eu, anjo da luz, na condição de advogado do autor Z!, peço, com todas as honras, que V. Exa. determine LIMINARMENTE:

A apreensão de todos livros sagrados que foram distribuídos e faça com que DEUS os reedite. Faça com que ele exclua, dessa maneira, os sete pecados capitais à medida em que eles não foram socialmente aceitáveis, excetuando os fanáticos que, talvez, cumpriram as ordens. Além do mais, o pedido inicial se faz necessário, ao passo que, como se sabe, nenhuma sanção restitui o que fora anteriormente perdido, mas apenas apazigua os ânimos mediante a justiça que será, assim espero, concretizada. Nenhuma fortuna material substitui os valores que foram, no caso de Z!, deixados de lado. O vazio que o corrói até hoje não pode ser restituído por “x” salários mínimos. É uma questão unicamente pessoal, intrínseca de cada ser. Continuando a proposta, caso o réu não considere de bom grado o pedido inicial de reeditar as escrituras, é dada a idéia que ele faça, de próprio punho, um documento alegando que Ele não existe. Parece, de inopino, contraditório, mas veja que se para fins legais Ele não existe, nenhum crime pode ser imputado a Ele. Com isso, ficaria provada a inocência do requerido. *



Assim, requer que Vossa Excelência determine a citação do réu para comparecer à audiência de conciliação a ser designada e, caso não haja acordo, possa oferecer sua contestação, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos alegados.


Nesses termos, pede-se, então, o deferimento.



Florianópolis, 9 de novembro do ano de 2009




Anjo da luz
Nº da Ordem dos Advogados da República Tcheca: 2012













* A parte do pedido foi feita com a ajuda do mestre Jason de Lima e Silva.

Wednesday 14 October 2009

Dez encantos da vida.



É dito, nas palavras dos grandes poetas, que a vida deve ser vivida. Uns comentam que é doce, outros que é bela. Alguns, porém, questionam a vida a pós a morte. Mas será que há vida antes da morte? Se existe, que tipo de vida há?


Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Jorge Amado. Autores que mostraram a vida - ou talvez a não vida - dos nordestinos. Escritores regionalistas. Realidades distintas deste planeta chamado Brasil. Zé, Maria, João. Trabalhadores desse imenso país. Sem opção, sem mobilidade social.


Não se pretende nessas poucas linhas apresentar discurso salvacionista: "Deve ser assim, deve ser assado", pois nada deve ser, tudo é desse jeito. Não deveria ter homicídio, não deveria ter miséria, mas tem. Lidamos com a realidade. Livros do tipo salvacionistas tem aos montes. Corra até uma banca mais próxima e adquira o seu! E salve-se quem puder...


Vidas Secas, vidas amargas, vidas sem- terra, vidas sem-vida. E ainda é dito que há vida antes da morte? Vidas preenchidas por idéias ocas, religiões ocas. O sentido perde o sentido; a vida, a vivência. A existência não precede nem antecede a essência. E nesse momento, que talvez nem seja um momento, a existência pára de existir. Um fim, uma morte:


- Como um cão!

Wednesday 16 September 2009

Risos.


Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela menina, que..., mas espera um pouco. Isso não é uma menina, é um... um travesti, isso mesmo, um travesti. Ou você acha que o Ronaldo é o único – abre aspas – que se enganou¿ Fecha aspas.

O mundo já foi um pouco menos hipócrita. Um pouquinho também, não muito. A depravação romanesca fez parte disso. Os romanos, mesmo não conhecendo o Tim Maia, já usavam o bordão: Vale tudo. Tudo mesmo. No império (numa determinada época), era lugar-comum a prática do homossexualismo. Livre de todo e qualquer preconceito. Eu não disse parcial, disse todo e qualquer. É claro que a concepção cultural deles tinha alguns retrocessos; refiro-me, porém, à concepção não-homofóbica. Se todos somos iguais perante a Ele, meu caro cristão, então... Três pontinhos.

Longe daquela sociedade alternativa tantas vezes citada por Raul Seixas, estamos aqui. Onde¿ No hospício social chamado terra. E Rita Lee numa ligação pra lá de metafísica disse: “Alô, alô, marciano. Aqui quem fala é da terra. Pra variar estamos em guerra.“ E que guerra! E com tanta coisa boa para fazer, excetuando a criação\manutenção do LHC, o tal acelerador de partículas... Pausa. Esse acelerador merece um comentário: Tudo bem que ele é a última bolacha do pacote científico, mas calma aí. Não sou físico, matemático ou coisa que o valha, todavia tenho uma sugestão – um tanto quanto egoísta, machista – que será apreciada pela raça viril: Ao invés de utilizar o LHC, criem clones. Criem, ó magnânimos seres da ciência, incessantemente, clones da Penélope Cruz. Ou melhor, da Scarlet Johanson. Ou melhor, da Marilyn Monroe. Da Dercy Gonçalves eu dispenso! Sugestão construtiva. Um processo de clonagem do tipo Bokanovsky.

Não nos empolguemos. Como eu tentava dizer, o mundo já foi um pouco menos hipócrita. E lá vem aquela conversa de condutas socialmente aceitáveis novamente. Será que um fato precisa se tornar banal para que seja totalmente aceito pela sociedade¿ Essa tal sociedade deve ser muito exigente mesmo. A tal ponto que ela deve cobrar dos políticos medidas a curto e longo prazo que resolvam as deficiências da nossa Ilha de Vera Cruz. Correto¿ Ainda bem que existem mais crentes do que ateus. Dessa maneira, alguém nesse país tem fé. Bem que eu queria ter. Você conhece alguém que a venda¿ Pelo que eu sei, religiosos já venderam “ossos” de Jesus Cristo, apartamentos do tipo duplex no céu, perdão etc. A priori, pelo o que eu sei, ainda não vendem ou não se deram conta que podem vendê-la. Aí uma dica para os empresários da fé.

Moral da história: Nossa história é amoral, nossa sociedade é amoral. Ontem, hoje, amanhã. Moralmente falando, a moral é a piada do futuro. A sátira do amanhã. O que era permitido, torna-se proibido; o proibido, permitido. A moral do oriente, a moral do ocidente. O travesti, o que lê gibi, o louco, o rouco. Cada qual com a sua vida, com o seu jeito. A moral como forma de regulamentar comportamento¿ Risos.

Tuesday 18 August 2009

Gripe A...nta

Talvez Balzac estivesse certo e Shakespeare não. Refiro-me aos jornais. Talvez eles sejam, como disse Balzac, os lupanares do pensamento. Uma coisa pode ser considerada certa: eles fornecem informações. Mas que tipo de informações?

Não venham me dizer que os jornais são imparciais. Não venham me falar que sem eles não viveríamos. Não venham me comentar que eles mostram somente a verdade. Qual verdade? Não tratem os jornais como novelas. Alguns sábios dizem que elas – as novelas - tratam da realidade. A título de curiosidade: Qual realidade? A minha? A sua? Eu não sou da Índia, muito menos faço parte de suas crenças, credos. E esses sábios dizem que ela mostra a realidade. Sei...

Sem os jornais, talvez a vida seria mais bela, talvez a vida fosse mais doce, la dolce vita. É impressionante como uma notícia muda tudo, todos, todas. Um simples telefonema anônimo e o caos se instala. Não abra mais as cartas, elas devem ter antraz! Conspira-se contra o vizinho, sogro, sogra (essa sempre merece atenção!). Hã, eu sempre soube que ele era suspeito. Comprava muita comida congelada... Detetives para botar inveja em Sir Doyle.

- Extra, extra, uma nova forma de gripe chegou para nos assolar! Dizem, os especialistas, que seu impacto será tão forte quanto a peste negra de séculos atrás. Noticiou um jornal fictício ou verídico. Tanto faz! Aprendi em matemática que a ordem dos fatores não altera o resultado. O nome da “coisa”, segundo esse jornal, é gripe suína, mas como a moda não pegou, denominaremos – seguindo as tendências de Milão - A...nta, gripe A...nta!

Estamos em alerta! Não aperte a mão do companheiro, não espirre, não tussa, não! Usaremos máscaras mesmo que fiquemos parecidos com alguma dançarina do funk. Quarentena já. Atenção, muita atenção! Todo cuidado é pouco! Cuidado com a gripe, porque...*


* O autor deste blog, por motivos de suspeita de gripe A...nta, não acabou de escrever o texto.






Tuesday 21 July 2009

Amigo é coisa para se guardar...





O acesso à cultura deveria ser maior, mas não é. Falando nela e aproveitando a deixa do dia do amigo, é bom lembrar que o melhor amigo que podemos ter é o livro. Ele pode até não te escutar, mas também não reclama. Pode até não dar conselhos, mas dá respostas, esclarece idéias.

É mais que uma viagem, ele é a panacéia que todos procuram. Pequeno, grande, médio. Azul, amarelo, preto. Novo, velho, surrado. Em várias línguas, poucas. Ideologias, crenças, credos. Sebos, medos, risos. Romances, tragédias, comédias. O divisor de águas! De um simples gibi do Zé carioca à Freud. De Cervantes à Mailer. A cultura mundial em algumas páginas.

Num momento você vê a visão de Nietzsche, noutr’oura Wittgenstein. Pessoas que mudaram toda uma forma de pensar. Bem ali, no livro. Assim como Kant, você não precisa viajar o mundo para ter idéias mirabolantes. A leitura basta! A inseparável leitura. Ela nos proporciona apenas um mal: a angústia. Angústia de não ter lido tantos clássicos. Quanto tempo perdido. Coisas da vida.

Alguns autores agressivos, outros visionários. Alguns com o complexo de Cassandra, outros com complexo de perseguição, outros só complexo mesmo. Rebuscados, incompreensíveis, instigantes. Amados, odiados, amenos, romenos, portugueses. Rimas, versos, frases. Um brinde ao inseparável amigo: o livro!

Há quem diga que existem três etapas na vida de um homem antes de virar cinzas; que é plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Plantar a árvore, dar a vida a um vegetal. Ter um filho, dar a vida a um humano. Escrever um livro, dar a vida a uma idéia. Na frase não explica se o livro é ou não de auto-ajuda, mas esse não tem espaço nem no espaço, muito menos aqui nesse planeta.

O estudante de Direito é que deveria gostar de ler um bom livro. Eu disse deveria, pois essa não é a regra, e sim a exceção. Ele entra com toda aquela vontade de mudar o mundo. E como ela acha que faria isso? Nas tão-faladas lacunas. Pensando alto, como diz Dr. Paulo de Barros Carvalho, e utilizando-se da lógica cartesiana: Se o acadêmico não lê a Constituição federal, como encontrará, ele, as lacunas? De quando em quando me pergunto, de quando em vez me questiono sobre isso. Nihil.

Wednesday 8 July 2009

Retrospectiva 2090

Dizem que os brasileiros têm memória curta. Falam como se fosse uma verdade auto-evidente. Pode ser. Não vou discutir métodos de como curá-la. Nenhuma terapia, nenhum tratamento Ludovico. Não vamos discutir isso. Vamos questionar!
Se for verdade, então pergunte ao seu vizinho fanático por futebol a escalação da seleção canarinho da década de 70: Pelé, Gerson, Félix e companhia. Ou então pergunte o ano em que a copa do mundo foi realizada no Brasil. Ou melhor, pergunte a sua vizinha quem matou a Odete Roitman, as circunstâncias, se deixou ou não herança. Será que eles não sabem? Sobre política eu acredito que não. Afinal ela não acrescenta em nada mesmo. Votar está fora de moda, ora, pois. São os artistas que modificam a sociedade. Política serve apenas para juntar a família na época de eleição num grande churrasco e relembrar os velhos tempos. Aceita um coraçãozinho?
Se mentira for, então cite o nome dos últimos deputados em que você votou. Enumere quantos elementos a tabela periódica - resgatando os tempos de escola – possui. Ou então diga à sua mulher a data em que você a conheceu, o local, como ela se vestia. Se mentira for, a roupa suja será sempre lavada em datas comemorativas; como, por exemplo, lembra daquela vez em que você falou que ia pescar peixe e acabou pescando outra coisa? Espetáculos familiares ou algo do tipo bem no dia de natal.
Curta? Longa? Seletiva! Memória seletiva. Máximas do tipo “brasileiro tem memória curta” é bem coisa de brasileiro. Justificativa tipicamente abrasileirada. É equivalente falar: Alemão tem sangue frio. Então é lugar comum na Alemanha não praticar filantropia? ONG’s não existem? Tudo bem que o nazismo não foi lá uma obra de caridade, mas também não vamos etiquetá-los. E para os que duvidam, Hitler nem alemão era. Não se preocupe, porém, com isso. O mais importante é que na retrospectiva do decorrente ano (2090), veremos o espetáculo midiático: Nenhuma cura de doença, nenhuma mudança na legislação brasileira. Grande parte da digressão vai mostrar um enterro de algum artista, tipo o Michael Jackson, com direito à venda de ingressos e tudo mais. C'est la vie, mon amour, c'est la vie.

Luccas Neves Stangler.

Wednesday 24 June 2009

Ensaio sobre a contradição ou discurso da moda.



Já falei, mas não custa repetir: Até que se prove o contrário – pelo menos para mim – tudo é controverso, nada é absoluto, nada é insubstituível. Vamos, então, ver os modismos:


- Você é católico? Então isso significa que você não usa camisinha, certo?

- Sexta-feira santa é dia de não comer carne? E crianças, vocês podem, padres?

- Você é cristão? Então você já leu a bíblia, não é mesmo?

- Quer trabalhar em casa? Pergunte-me como. Se você realmente soubesse como trabalhar em casa, então me diga por que cargas d’água você está trabalhando fora fazendo sua propaganda com seu broche?

- Você é autor de livro de auto-ajuda? Então porque você depende da venda de seus livros para te auto-ajudar financeiramente?

- Você encontrou o segredo? Então, meu caro, você sabe como ganhar dinheiro dormindo?

- Os provérbios chineses são inteligentes? Se, como diz Millôr, os chineses criaram esses adágios, logo deveriam ser inteligentes. Mas porque são escravizados pelo socialismo de mercado Chinês?

Se você não sabe as respostas, muito menos eu. Aliás, antes que eu entre em contradição vou-me embora. E Logo. Hasta la vista, baby.

Monday 15 June 2009

Crack não!


Crack não!


A criatividade humana é por si só kafkiana. A criatividade humana aliada à inutilidade é um amor platônico. A criatividade humana aliada à inutilidade para criar uma campanha de combate exclusivo ao crack é – na melhor das hipóteses - tola ou - na pior das hipóteses - idiota.


Não é de hoje que o discurso moralista existe. É do tempo em que o Mar Morto ainda estava doente. Nos primórdios, desde priscas eras. Quando Adão e Eva estavam no paraíso, quando a igreja católica proibiu certos ritos na Idade Média, nos sermões de Padre Antônio Vieira etc. Pois bem. O discurso pode impor algumas regras, pode impedir certos atos. É como se se você fizer algo será castigado, como se se tivesse aberto a caixa de Pandora e agora tudo acontecerá. Ai ai ai ui ui. Sábias palavras do nosso ex-futuro presidente Silvio Santos. A idéia de crime e posterior castigo. Enfim.

Darwin, o pobre, morreu acreditando na teoria evolucionista, que o ser humano evoluiu. Evolução? Não dessa maneira, não desse modo. O progresso (a falsa idéia de progresso) e seus insustentáveis positivistas são passíveis de serem discutidos - e muito! Discurso moralista já foi superado há algum tempo [é o que dizem].

Mesmo sabendo disso, a mídia, que acha que está inovando, cria uma campanha de combate exclusivo ao crack. Crack não! Cocaína, LSD, Heroína podem; agora crack, que é uma droga usada em sua maioria pelos excluídos, não! Olha o zé novamente em apuros. Não foi dessa vez que você terminou com um final feliz zé, não foi dessa vez...

Friday 5 June 2009

Relatos de um jovem comunista

Comunista não! Anarco-sindicalista. E não me venha com esses argumentos clichês porque não sou o único não. Você, capitalista convicto, que vibrou muito no início do decênio de 90 com a queda da cortina de ferro está prestes a ouvir uma novidade: O socialismo está por toda a parte, não do jeito que sonhava Fidel Castro, nem como idealizava Lênin, mas...


A guerra fria foi uma piada, o resultado catastrófico, a União Soviética aniquilada; o socialismo, porém, intacto. E o pior não é isso, o pior é que o fomentador de tudo é os EUA. Os neo-liberalistazinhos de plantão estão se perguntando como isso aconteceu. Será o Tio Sam traidor de toda ideologia? Talvez seja, talvez não. Confesso que é um socialismo às avessas, bem ao estilo estadunidense. Paciência, nem tudo é perfeito.


O socialismo americanizado – basicamente – é constituído de condutas: A idiotice foi socializada, a mediocridade foi socializada, a ignorância foi socializada, a fofoca foi socializada! Mulheres – as que se sujeitam, é claro – foram socializadas de forma a ficarem desnudas nas revistas masculinas. Dizem os especialistas que elas não socializam os seus respectivos corpos, apenas fazem isso em prol da arte. Eu também acho. Socializemos, então, as não socializadas em prol da arte, socializemos!


Não devemos esquecer, igualmente, do pai do socialismo. Karl Marx que nada! Falo de um errante, do messias cristão Jesus. Cristo conseguiu, sem efeitos especiais hollywoodianos, repartir o pão com todos os seus apóstolos. Se capitalista fosse, venderia sua fórmula de multiplicação no programa da Ana Maria Braga e ficaria rico – o que não foi o caso.


Chegamos na Era dos extremos, como intitula-se o livro de Eric Hobsbawm. Confesso que esse não é nem de perto o comunismo esperado, muito menos o socialismo utópico. Com esse socialismo “made in USA”, surgiu-me uma idéia melhor: Capitalizar o socialismo. Os iguais perante os iguais, os desiguais perante os desiguais...

Sunday 24 May 2009

Façamos o Diabo Feliz

Vamos rir. Vamos. Vamos chorar. Vamos. O que mais você quer, televisão ?
Aplausos ? Vamos aplaudir a nossa legislação brasileira! Viva! Ela nos é posta, disso eu já sei; quero soluções e não mais um monte de números. Aliás, você não é uma pessoa que cometeu um estelionato, você é o artigo 171. Viva, somos números.

Com toda sua "super-útil" extensão, ela não prevê nem leva em consideração a
condição do zé. Coitado do zé. O mundo é um moinho, zé, é um moinho. Pelo menos era isso que Cartola dizia.
Nas aulas de Direito, falam-se dos artigos, medidas provisórias, mas onde estão as pessoas ? Não foi perguntado ao zé. E nem será mesmo. O pior é que ele nem pode alegar que as desconhece.

- Mesmo sendo analfabeto ? Mesmo.
- Mesmo morando no Chuí ? Mesmo.

Deixa eu te explicar, zé:

Você não é convidado para nascer, você simplesmente nasce e, de grátis, você acaba de receber uma eterna estadia num local chamado Estado. Parece uma oferta e tanto, não ? Isso não é lá dos melhores pacotes turísticos, a não ser que você more - como o Professor Felipe Fuentes fala - na tal da bolha. Estrutura da bolha: O cidadão fica a vida toda trabalhando para agregar valores e conseguir bens e quando chega no cume, fecha-se no seu microcosmo, no seu mundinho, na bolha. O sujeito contrata vigias, tem muros - muros não, muralha da China -, cercas-elétricas etc e é amparado pela Carta Magna. Você não, zé, você é a ovelha Dolly do nosso glorioso sistema. Você é a cobaia do sistema. Sistema, que palavra!

Você fica à margem do sistema. Fica à margem, mas se você não andar conforme os conformes você é preso, cuidado! Não se iluda, a constituição não prevê a garantia de ser cumprida. Que todos somos iguais perante a lei, todos estão doutorados nisso; agora cumprir esse ordenamento, ah, meu amigo, aí é outra história. Além do mais, é controversa. Como ela pode "garantir" a liberdade se os presídios privam a sua liberdade, zé ? É como se entrasse num museu que garantisse entrada franca, todavia, fosse cobrado o ingresso.

É para rir ou para chorar, televisão ? Rir. Façamos, então, o Diabo feliz: Deixe tudo como está, porque, assim como os paulistanos, deixaremos acabar tudo em pizza!

- Não entendi nada que o senhor falou, só a parte da pizza. Mas, afinal, qual o sabor, Seu Luccas ? - zé.

- AMARGO! - Luccas Neves Stangler.



Sunday 17 May 2009

Samba da bênção do celular.


A vida não é feita de conselhos, mas de experiências.

Por mais que você queira aconselhar seu filho a não pular do muro, porque vai machucar o joelhinho dele, ele vai se jogar. Depois do fato consumado, ele, mesmo não sabendo, vai fazer juízo sobre isso:

- Bem que a mamãe estava certa!

Não, não estava não. Ou até poderia, porém deixar que seu descendente não passasse por aquela experiência - talvez até inenarrável - seria um "pecado".
A vida é construída, nas palavras de Steve Jobs, por pontos. Pontos adquiridos ao longo da vida que de uma forma ou de outra se ligam no final. Efeito borboleta. Nada de destino! Nada de Maktub! Ao acaso mesmo (ou sorte como Woody Allen prefere), de forma caótica.
Se existisse pré-destinação a vida seria muito fácil. Ora, se eu sou pré-destinado, vou ficar em casa, escutar meu Cazuza sem me preocupar, pois meu destino já foi traçado. Pobre Mãe Diná, seus dias estão contados.

Sobre isso, meu tio, um grande auto-didata, sempre falava e ainda fala: "Luccas, a faculdade garante apenas duas coisas: comprar seu carro e sua casa financiados. Ficar rico é uma questão de sorte, não de competência. Aquela história de bênção do celular é uma piada!" Fazendo um parênteses: Para você que não sabe da novidade, existem algumas igrejas que estão fazendo a bênção do celular; dizem que quem é abençoado vai receber ligações milagrosas. Prefiro me abster e não comentar.

Volto a dizer que a vida não é feita de conselhos, mas de experiências. A vida deve ser vivida, aproveitada. CARPE DIEM. Na letra do mestre Vinícius de Moraes, " a vida é pra valer. Não se engane não. Tem uma só. Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado em certidão passada no cartório do céu e assinada embaixo: Deus. E com firma reconhecida. A vida não é de brincadeira, amigo. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

Por fim, não seja um chato, não tenha infinitas regras, não entulhe seu filho de conselhos, apenas viva e deixe ele viver! Mostre caminhos a trilhar e deixe que a vida se encarrega do seu filhinho. Antes de se tornar cinzas, chegará ele a mesma conclusão de Pablo Neruda: "Confesso que vivi."

Monday 11 May 2009

Mal do século

-EXTRA, EXTRA! Acaba de ser descoberta uma nova doença que fora intitulada como mal do século: a futilidade.
Se você assina revistas de cunho fútil que tratam da vida alheia, assiste programas de televisão cujo bordão do apresentador é "ô louco, meu" e compra compulsivamente para preencher seu vazio existencial...
CUIDADO! Você pode estar com futilidade aguda, mas não se preocupe, tem cura.
Pegue papel e caneta e anote - caso apresente esses sintomas:

1- Pela manhã, meia dose de MPB;

2- Uma dose diária de leitura clássica como, por exemplo, Os Miseráveis (Victor Hugo);

3- Pelo menos uma vez na semana, uma dose de cinema e/ou museu;

4- Por fim, uma vez ao ano, no mínimo, viaje.

Ao persisterem os sintomas, consulte um médico.

Wednesday 29 April 2009

Karl Marx e Che Guevara que não me escutem...



Aos 18 anos, beirando aos 19, visito a capital do Chile. Num city tour, fico impressionado com dois fatos. De um lado uma imensa igreja - catedral de Santiago -, de outro um mendigo tendo um ataque epilético na frente da mesma (uma cena inesquecível). Fica, então, a pergunta: Como uma instituição religiosa pode ter tanta ostentação, tanta luxúria, se deixa um filho de DEUS, que não quer luxo nem lixo, padecer ?

Ele não quer saber se o santo sei-lá-do-que é revestido de ouro ou pirita. Se o padre fez ou não o voto de castidade - aliás, azar o dele! Tanto faz se o Brasil é laico ou fala aramaico. Não importa. Viver com dignidade, isso é o que importa.
Aos olhos da sociedade, um ser tão inanimado quanto uma árvore. Tão inútil quanto um besteirol americano. Um problema social. Um problema criado por um sistema à la yankees que busca acumular capitais, protecionismo exarcebado e reduzir os países pobres em super-ultra-mega-sub-desenvolvidos.
As igrejas, por sua vez, apresentam, em sua maioria, este discurso hipócrita de igualdade, todavia são mais capitalistas que muita empresa que tenho conhecimento. Então... Eureka! Acabo de descobrir a solução para a crise financeira mundial. Karl Marx e Che Guevara que não me escutem, mas o socialismo é coisa do passado; o futuro agora, meus irmãos, é o cristianismo.

Friday 24 April 2009

Minha terra tem injustiças
Onde cantam os marajás,
As aves rapinas que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais sujeira,
Nossas várzeas mais odores,
Nossos bosques estão sem vida,
Nossa vida dissabores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Nenhum prazer encontro eu cá
Minha terra tem injustiças

Onde cantam os marajás.

Minha terra tem milícias, favelas, corrupção
Que tais não encontro em nenhum lugar não;
Em cismar — sozinho, à noite —
Nenhum prazer encontro eu cá;
Minha terra tem injustiças
Onde cantam os marajás

Não Permita Deus que eu morra,
Nem que eu vá para outro plano;
Sem que desfrute os primores
Longe dos dissabores;
Sem avistar os pós-maluf's nas Ilhas Cayman,
Onde cantam os marajás que virão amanhã...

Tuesday 24 March 2009

Atire a primeira pedra

Perdoa, Pai,



eles não sabem o que fazem. E não sabem mesmo. Os Seus filhos ainda acham que a Lei do Talião está em vigor. Se alguém matou, esse alguém deve ser morto; se alguém roubou, deve ser roubado. Nem eu - que tenho mais de dois mil anos de idade - penso dessa forma. Não julgarás o próximo! A carne é fraca, a tentação de julgar o próximo é imensa, mas atire a primeira pedra quem nunca pecou. Atire a primeira pedra quem nunca errou. Atire a primeira pedra quem nunca cobiçou a mulher do próximo. Atire se fores capaz! Sobraram pedras e pecadores.
O ponto de vista depende da vista do ponto. Hitler é um exemplo disso. Sob sua ótica, todas as atrocidades que cometeu eram, na realidade, uma tentativa de melhorar seu país. Outros interpretaram como um darwinismo social compulsivo. Quem estava certo? Quem estava errado? Cabe à justiça divina(no caso Você, meu Pai, Criador da terra) e a justiça positivada julgar, não aos cidadãos comuns. Em uma análise profunda, o professor Sandro Sell questionou sobre a “justiça” dos presos para com os estupradores. “Quem são os bandidos para falar em justiça com as próprias mãos e molestar o estuprador? Quem são os bandidos para falar mal da conduta do estuprador?” refletiu o mestre Sell. Quer dizer, então, que é permitido bater numa prostituta e botar fogo em um índio, mas estuprar uma pessoa é chocante demais para um serial killer? Imagino que seja mesmo. Eu defino esse sentimento heróico, essa pró-atividade de síndrome de Robin Wood. Roubar dos ricos e dar aos pobres; matar os assassinos e deixar viver os inocentes. Diga aos Seus fiéis, Senhor do universo, que, quando o Apocalipse chegar, saberão eles, os incrédulos, quem é quem na história. Quem é a chapeuzinho vermelho e quem é o lobo mau ou então saberão que os dois são a mesma coisa. Perdoa, Pai, perdoa.



(Jesus Cristo)

Friday 20 March 2009


A sociedade fecha os olhos para não ver os problemas.
Eu fecho os olhos para não ver a sociedade.

Sunday 15 March 2009


Até que se prove o contrário - pelo menos para mim - tudo é controverso, nada é absoluto, nada é insubstituível.

Monday 9 March 2009

Um café com Platão.

Nós, brasileiros, temos a mania de acreditar em que tudo o que é implatado nos outros países dará certo aqui no Brasil. Pobres brasileiros! Que país é esse ? País da ilusão. Somos vítimas do ilusionismo mundial. Não temos uma administração pública, temos uma administração de interesses. Não é o pobre favelado que necessita de amparo, é o burguês que precisa do amparo para se proteger do pobre favelado. É isso que chamamos de democracia. Segundo seu significado, democracia é o governo do povo. Pelo menos é o que deveria ser.

Dessa maneira, compara-se o povo com uma criança de um ano brincando com uma "massinha" de modelar. A criança - por ainda não ter o discernimento necessário - vai com toda a certeza engolir o brinquedo. Ou seja, ainda não sabe como manipular a sua nova brincadeira. As pessoas com a democracia são a mesma coisa. Por não saberem como mexer no seu novo brinquedinho, não o fazem funcionar corretamente. Quem sabe mexer, todavia, não ensina como brincar. Ou melhor, ensinar até ensina, porém às avessas. É muito mais interessante ensinar de modo que poucos se beneficiem. Em suma, quem detém o poder, controla; quem não, é controlado.

Lutou-se tanto contra a roda-viva para no fim termos a falsa democracia. Os jogadores mudaram,o jogo não. Como diz o adágio: trocaram-se seis por meia dúzia. Saimos da ditadura declarada para a ditadura enrustida. Não queremos ser, já nos tornamos John Malkovich! Contudo, ainda há solução. Resgato ela da idéia de um pensador muito antigo, Platão.

Platão, discípulo de Sócrates, mestre de Ari (forma carinhosa como a Dra. Samantha Buglione chama Aristóteles). Grande filósofo. Homem de poucas afirmações, muitas idéias. Em uma delas, afirmou qual seria a melhor forma de governo: a sofocracia. Nela, os sábios é que realmente deveriam comandar. Os sábios, não os medíocres. Lembro que meu ex-coordenador, professor Alceu de Oliveira, sempre nos aconselhava em não ser pessoas medíocres, pois estes são os que estão na média, os que não fazem a diferença. O grande filósofo grego, por sua vez, também não queria políticos medíocres no círculo social.
Somente os inteligentes é que saberiam como governar o povo. Eis que surge um problema: o difícil não será implatar a sofocracia, o impossível será encontrar esses sábios, uma espécie em extinção.

Friday 27 February 2009

Mulheres de Atenas


Vamos logosofar. A logosofia busca o sentido das coisas da vida, eu também. Uma das coisas que busco é o porquê da traição. Comecemos do começo, é lógico.
Pela ordem natural do universo e por vários outros motivos, o parceiro (macho) ideal, independentemente da espécie, é aquele que mais tem condição de perpetuar sua raça. Ora, isso se deve por causas óbvias - apesar de que o óbvio nem sempre é tão claro para todos. Parece estranho, mas nesse caso de procriar, não existe nenhuma diferença entre o animal racional e o irracional. Basicamente é a mesma coisa.
Mesmo que inconscientemente, a mulher busca o homem que possui (além do companheirismo, sexo, amor) uma característica marcante: força. É isso mesmo, a força. Força no sentido de se impor aos adversários, como é o caso dos leões que brigam por território, força no sentido de proteção à prole, enfim, força no sentido amplo da palavra. Não entenda como uma apologia às brigas, não interprete mal. Ainda logosofando: nenhuma pessoa escolhe a outra como parceiro porque os dois se completam. Esta história de metades opostas que se completam é uma farsa. Se assim fosse, todo “pagodeiro” se casaria com uma “roqueira” e vice-versa. Não é isso que se vê. Salvo exceções. Eduardo e Mônica são a exceção.
Mas afinal, como se dá a traição? Não sou Freud, mas tento explicar.
Veja que, antes das “vias de fato”, é necessário que as duas partes se conheçam. Uma simples noite numa boate já é um começo. Sobre isso, Schopenhauer dizia que, assim como os pavões, os homens dançam nas boates com o objetivo de se acasalar. Olha outra vez o inconsciente agindo. Retomo o foco. No momento em que se conhecem, gera-se uma expectativa entre ambos. No caso feminino, a mulher cria uma projeção, assim como a de um projetor na parede, errônea de determinado homem, por exemplo. Acredita que o mesmo é o ideal. Dizem que nove meses depois é que se vê o resultado, ainda não sei sobre isso. Como eu dizia, quando a projeção se torna realidade e a realidade não é bem aquela esperada, começam os indícios de insatisfação. Insatisfação gera mais insatisfação, é um efeito cumulativo, é quase que uma “bola de neve”. Aquele homem não é mais aquele Homem. E mesmo tendo brutais diferenças entre as mulheres de hoje para as de Atenas, elas ainda buscam a tal força, o amparo. Sem isso, a probabilidade de traição aumenta. É claro que nem toda separação ocorre com traição, é para isso que existe o diálogo e, pelo o que eu saiba, dá-se entre duas pessoas, no caso marido e mulher. Quando chega o fim da projeção, questiona-se o motivo de não ter dado certo o relacionamento. Claro que deu certo! Pelo menos momentos antes da insatisfação gerada. Assim, o grande sociólogo Sandro Sell, o qual tenho grande admiração, dizia e ainda diz que não há culpado na separação do casal. Não foi o fulano ou a fulana que acabou com tudo, o que não deu certo foi a relação entre os dois.
Meu único conselho, “Ladies and Gentlemen”, é o mesmo do Chico Buarque; “Mirem-se no exemplo, daquelas mulheres de Atenas...”

Sunday 22 February 2009

Ser ou não ser, eis a questão


Carnaval. Tempo de jogar todos problemas para cima e se divertir. A velha e infalível política do pão e circo. Pessoas bebem, pessoas morrem. Mas essa não é a questão a ser discutida. Homossexualismo, essa é a questão.
O preconceito com essa opção sexual é gritante. Homossexuais são acusados de ser a escória da humanidade, os desajustados sociais. A lei, bem como a bíblia, garante que somos todos iguais. Parece que não é isso que acontece. Acredito que o conceito de igualdade mudou. É a única explicação plausível.
Voltamos ao carnaval. Com tanta fantasia para se vestir, as pessoas, principalmente os homens, usam trajes exóticos e se comportam como os tão perseguidos homossexuais. Que ironia! Bem vindo à sociedade contemporânea. Um paradoxo. Um claro enigma.
Então por que toda essa homofobia? Elementar, meu caro Watson. Junta-se uma sociedade machista com uma ignorância sem tamanho e tem-se como resultado o preconceito. É simples, é exato, é matemático. Resta saber até quando essa visão ultrapassada de modelo social persistirá...

Monday 16 February 2009

Vou-me embora pra Pasárgada

A imensa maioria da população não pára para pensar; logo, segundo o raciocínio de Descartes, não existe - ou pelo menos não deveria existir. Por que pensar se é mais fácil fechar os olhos e ignorar a realidade?

- Ahhh, mas se aquele miserável não tem dinheiro para comprar a fralda do filho o problema é dele e não meu!
Pensa o capitalista convicto.

- Não dê bola para esse mendigo, vamos logo à casa, amor, porque quero assistir o Domingão do Faustão. O Estado é que deve tomar conta dele!
Diz uma intelectual senhora ao seu marido.

-Poxa, se eu tivesse como te ajudar...
Afirma um falso moralista a um necessitado.

E essa parcela da população que não pára para pensar é a mesma que depois reclama da criminalidade. Reclama não, esperneia. Aquele mesmo indivíduo marginalizado socialmente por essa população, depois de tanta humilhação, depois de várias tentativas frustradas, busca o crime. Pronto. Agora não é mais o necessitado, agora é o marginal com potencial de seriall killer que não quer saber de trabalho. Mudou o paradigma. Antes era a vítima, agora o "meliante". Depois de roubar aquele mesmo capitalista convicto que o negligenciou restou a dúvida: qual é o lado mau da história? O suposto marginal, que buscava dinheiro para comprar a fralda para seu filho, ou o "burguês" (utilizando um termo hoje demodê), que simplesmente virou as costas para a "realidade"?

Roubar não é certo. Aliás, um erro não justifica o outro, todavia o sujeito precisa viver. "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", já retratava a banda Titãs. Não é somente um bolsa sei lá o que que vai fazer a diferença. As pessoas não percebem, mas vivemos - e isso não é nenhuma novidade - em sociedade. Ninguém vive sem a ajuda do próximo. Mas por que penso nisso? Pensar dá muito trabalho. Vou voltar a assistir o Domingão do Faustão que é melhor que eu faço. Ou melhor, vou-me embora pra Pasárgada. "Em Pasárgada tem tudo, é outra civilização. Tem um processo seguro de impedir a concepção, tem telefone automático, tem alcalóide à vontade..."

Wednesday 4 February 2009

AMÉM.

Estava sentado num banco da praça. Eram 14h02min. Um senhor passa por mim e diz:

- Boa tarde, moço.

Educadamente retruco:

- Bom dia, senhor.

- Bom dia?

- É, bom dia, senhor. Por que o espanto?

- São 14h02min, logo é boa tarde, moço!

Minutos atrás estava sossegado, agora perturbado. Olha onde me meti.

- Senhor, hoje é um dia, certo? Independentemente do horário, hoje é um dia.

- Sim, até esse ponto eu concordo, retrucou o senhor.

- Se hoje é um dia e, independentemente do horário, ainda é dia, então BOM DIA!

- Ahhhhhhh! Agora eu entendi. Bom dia pra você também, moço.

E os lingüistas, ou linguistas, ainda acham que a reforma ortográfica revolucionou o Brasil. Se essa conversa fosse nos Estados Unidos não teria essa confusão. Como é sabido, “good morning” é diferente de “good day”. E por falar em reforma, a maldita mesóclise não deixou de existir!
Dar-te-ei meus 6 mandamentos, senhores lingüistas:

1- Para que ter uma língua tão ampla e erudita se a maioria da população não tem oportunidade sequer de estudar? SIMPLIFICAI-VOS o português;

2- Os Anglo-saxões têm uma língua simplificada, mas nem por isso deixam de ser desenvolvidos. SIMPLIFICAI-VOS o português;

3- Que diferença faz escrever lingüiça com ou sem trema se grande parte da população não tem dinheiro para comprá-la? SIMPLIFICAI-VOS o português;

4- Se a intenção da reforma era de unir os países que falam o português, então vamos unir todas as nossas riquezas - inclusive as que Portugal nos "subtraiu" -, nossos problemas e nossa constituição. Afinal, reforma deve ser entendida como o próprio nome sugere: reformulação.
SIMPLIFICAI-VOS o português;

5- Se cada reforma ortográfica tiver uma “complexidade tão vasta” como essa, as grandes editoras vão agradecer, porque é mais lucro para seus pequenos cofres em formato de porco. SIMPLIFICAI-VOS de maneira CORRETA e COERENTE o português;

6- A soberba também é um pecado capital; acredito que essa regra não valha para os lingüistas, todavia. SIMPLIFICAI-VOS o português! AMÉM.

Tuesday 3 February 2009

Liberté, égalité, fraternité.

Várias guerras foram travadas durante os séculos em torno de um ideal: a liberdade. Sans-culotes, Ghandi, Mandela, assim como outros, lutaram para conquistá-la de variadas formas. Liberdade de expressão, liberdade racial, liberdade do voto. Por sua incansável busca, pessoas foram torturadas, povos dizimados, cidades destruídas e tudo isso em prol desse ideal de libertação. Mas a vida, a vida é uma caixinha de surpresas.

Depois de tanto sacrifício, tanta evolução, chega o progresso. E como Bertrand Russel falou “A mudança é indubitável, mas o progresso é uma questão controversa”. Com ele, a profecia de George Orwell – em seu livro 1984 - pode ser deduzida e, talvez, concretizada. Grande parte da população tornou-se aquilo que se chama “massa”. O Estado, como é sabido, controla a massa; a imprensa controla a massa, os políticos controlam a massa.

Vários são os tipos de pessoas que se incluem na "massa". Existem até aquelas pessoas que privam de sua liberdade por 1 milhão de reais, como é o caso dos participantes do programa “Big Brother”. Um cachorro, se formos pensar, tem muito mais liberdade que um ser humano. Veja que, se uma pessoa almeja comprar uma Ferrari, mas não tem dinheiro para efetuar essa compra, ela não adquire o carro. Que liberdade é essa? O conceito liberdade, desse modo, entra em colapso. Quem é o animal racional: o cachorro (que faz o que bem entender) ou homem que acha que faz o que bem entender?

Friday 23 January 2009

Morte e vida.

Morri. Minha vida, assim como a de tantos, não teve muita graça. Meu nome é aspirina, é dorflex, tanto faz. Ninguém se importa com os idosos mesmo.

Se ao menos eu tivesse nascido na Antiga Roma ou no Egito, seria um sábio, um jurisconsulto. Mas não, nasci no Brasil, na era do globaliteísmo. Meus netos preferiam pesquisar no “Google” ao invés de perguntar a mim. Que vida sem graça! Os jovens não têm mais graça, as mulheres com aquela argamassa – que elas chamam de maquilagem – não têm mais graça! Ai que saudade da Amélia, minha cachorra.

Hoje, perante o Estado, sou aposentado; perante a sociedade, um ser sem validade. Meu DEUS, nem as rimas têm mais graça. E Charles Chaplin ainda dizia que a gente deveria nascer velho e morrer jovem. Tenho eu minhas dúvidas. Acho melhor não ter nascido. Depois de vivenciar tantas guerras, tanto racismo, quero ser outro bicho na outra encarnação (se é que ela existe). Uma gaivota, quem sabe Fernão Capelo Gaivota, que afirmava “longe é um lugar que não existe”.

E como vocês sabem, meu fim não poderia ser diferente. Morri. A sociedade, a família, o globaliteísmo, quem foi o responsável? Também não sei. Perguntem ao tal “Google”...

Thursday 22 January 2009

Cotidiano

Vais encontrar o mundo, meu filho - disse um pai ao seu filho minutos antes de seu casamento, na porta da igreja. Esse mesmo pai esqueceu de avisá-lo como seria esse novo mundo.

Esse mundo casamento foi um padrão criado pela sociedade. De forma adaptada a frase de René Descartes: Preciso mostrar que sou um cidadão de bem, logo tenho que casar! Espécie de auto-afirmação. Criou-se a idéia que matrimônio é sinônimo de confiança, respeito. O amor, de acordo com essa visão, não importa. Inverteu-se a concepção de valores. A aparência em detrimento da essência. Parece que o critério principal de escolha para presidente do Brasil, por exemplo, é ter esposa, estar casado. As tele-novelas, inclusive, geralmente acabam com uma união matrimonial. Quem disse que casamento sempre tem final feliz?

A normalidade fez isso e a sociedade aceita. Não que seja impossível um casamento ser feliz, porém o faz-de-conta social impede que as pessoas se descubram e sejam felizes. Casamento não deve ser tratado como prisão e sim como um parque de diversões. Não existe amor eterno, mas que seja eterno enquanto dure.
Para acabar com a ideologia do amor eterno e contrariar a Igreja Católica, surge, no século XX, a esperada separação legal. Passadas algumas décadas, mesmo com enormes avanços, a sociedade – ainda atrasada – não encara esse processo com tanta naturalidade. Avanços eletrônicos, retrocessos mentais. Infelizmente, a tecnologia não conseguiu ultrapassar a barreira que tanto já causou discussão: o preconceito.

Casamento e divórcio. Idéias tão distintas, mas tão próximas. Hoje esse conota tristeza, aquele felicidade. Amanhã, apenas o padrão social de normas distinguirá...