Friday 23 January 2009

Morte e vida.

Morri. Minha vida, assim como a de tantos, não teve muita graça. Meu nome é aspirina, é dorflex, tanto faz. Ninguém se importa com os idosos mesmo.

Se ao menos eu tivesse nascido na Antiga Roma ou no Egito, seria um sábio, um jurisconsulto. Mas não, nasci no Brasil, na era do globaliteísmo. Meus netos preferiam pesquisar no “Google” ao invés de perguntar a mim. Que vida sem graça! Os jovens não têm mais graça, as mulheres com aquela argamassa – que elas chamam de maquilagem – não têm mais graça! Ai que saudade da Amélia, minha cachorra.

Hoje, perante o Estado, sou aposentado; perante a sociedade, um ser sem validade. Meu DEUS, nem as rimas têm mais graça. E Charles Chaplin ainda dizia que a gente deveria nascer velho e morrer jovem. Tenho eu minhas dúvidas. Acho melhor não ter nascido. Depois de vivenciar tantas guerras, tanto racismo, quero ser outro bicho na outra encarnação (se é que ela existe). Uma gaivota, quem sabe Fernão Capelo Gaivota, que afirmava “longe é um lugar que não existe”.

E como vocês sabem, meu fim não poderia ser diferente. Morri. A sociedade, a família, o globaliteísmo, quem foi o responsável? Também não sei. Perguntem ao tal “Google”...

Thursday 22 January 2009

Cotidiano

Vais encontrar o mundo, meu filho - disse um pai ao seu filho minutos antes de seu casamento, na porta da igreja. Esse mesmo pai esqueceu de avisá-lo como seria esse novo mundo.

Esse mundo casamento foi um padrão criado pela sociedade. De forma adaptada a frase de René Descartes: Preciso mostrar que sou um cidadão de bem, logo tenho que casar! Espécie de auto-afirmação. Criou-se a idéia que matrimônio é sinônimo de confiança, respeito. O amor, de acordo com essa visão, não importa. Inverteu-se a concepção de valores. A aparência em detrimento da essência. Parece que o critério principal de escolha para presidente do Brasil, por exemplo, é ter esposa, estar casado. As tele-novelas, inclusive, geralmente acabam com uma união matrimonial. Quem disse que casamento sempre tem final feliz?

A normalidade fez isso e a sociedade aceita. Não que seja impossível um casamento ser feliz, porém o faz-de-conta social impede que as pessoas se descubram e sejam felizes. Casamento não deve ser tratado como prisão e sim como um parque de diversões. Não existe amor eterno, mas que seja eterno enquanto dure.
Para acabar com a ideologia do amor eterno e contrariar a Igreja Católica, surge, no século XX, a esperada separação legal. Passadas algumas décadas, mesmo com enormes avanços, a sociedade – ainda atrasada – não encara esse processo com tanta naturalidade. Avanços eletrônicos, retrocessos mentais. Infelizmente, a tecnologia não conseguiu ultrapassar a barreira que tanto já causou discussão: o preconceito.

Casamento e divórcio. Idéias tão distintas, mas tão próximas. Hoje esse conota tristeza, aquele felicidade. Amanhã, apenas o padrão social de normas distinguirá...