Wednesday 9 December 2015

Dark sides come to earth every now and then. They are part of us, why deny it? There is no need for that. Light: why should one crave for it? I am suddenly taken aback when opening a book: Let things 
come to you - that what is written. 

Wednesday 25 November 2015

Mais uma partida


Demoro ao me despedir. Quero evitar o sofrimento da partida. Apesar da vã tentativa é chegada a hora. Um abraço, um aceno? Não há consolo que baste. Apenas um imenso vazio que toma conta do corpo. Adeus. 

Tuesday 13 October 2015

Uma longa caminhada

Ali, onde ruídos não existiam, um frio cortante me atravessava. Pedaços que já foram meus despediam-se de mim. Adeus, disse. Juntei os cacos restantes com uma mão enquanto na outra segurava o meu café. Agarrei-me às poucas convicções que ainda me restavam, respirei fundo e caminhei vagarosamente em direção aos vestíbulos do desconhecido - local onde a palavra regresso inexiste.

Sunday 27 September 2015

Visitas norturnas

De noite, enquanto a lua silencia, fantasmas batem à porta. Gentilmente lhes autorizo adentrarem a minha morada - eu que outrora hostilizei a entrada de qualquer intruso em meu recinto. São muitos. Vem de muito longe para me fazer companhia. Ao meu redor ficam e calados permanecem até que eu decida interagir, o que nem sempre acontece. Deixam-me a sós com minha solidão. Ficam atentos ao menor movimento dos meus lábios como se contemplassem um eclipse pela primeira vez. Nem sempre consigo lhes retribuir gentilezas. Há dias e dias. Quando o sol dá sinais de existência, eles se retiram com a certeza de que a primavera voltará. Esboço sinais de simpatia e jogo-lhes um aceno sem pronunciar uma sílaba. Já somos velhos conhecidos, as palavras não nos bastam. 

Monday 7 September 2015

Notas ao entardecer



De longe, avistara um jovem. Era um rapaz. Na praia, ele olhava para o horizonte, para um lugar onde que ele queria estar, mas que não existia. A doença de todo jovem é estar sempre estar just about to go, sempre à procura do que não há, em companhia daquilo que não existe. O mar há de lhe ensinar umas boas lições: a grandeza da vida...




Pintura: Marc Chagall

Sunday 9 August 2015

Another brick in the wall

I was another brick in the wall. A tiny little thing, stuck with them in a surreslistic world: having to cope with not moving around and waiting for the Almighty, a chap that might not even exist. 

Thursday 30 July 2015

Constatação no anoitecer

Por mais que nos esforcemos a fazer parte da natureza, somos exteriores a ela, estamos à parte: nossa constituição é o anti-natural.

Saturday 6 June 2015

A miséria da teoria ou o encontro dos miseráveis



- "Ô, Josué!, nunca vi tamanha desgraça: quanto mais miséria tem mais urubu ameaça." (Chico Science)


Sempre quando caminhava ao ar livre, um urubu - esses pássaros negros que levam consigo a mesma ganância pela miséria que nós temos - me seguia. Nunca comentei tal com ninguém, portanto nem é preciso dizer que isso é um segredo nosso, meu e teu, leitor. Certo? 

Pois bem. Dia desses fingi-me de morto, assim o urubu deixaria de sobrevoar sobre a minha cabeça e tentaria saciar a sua sede com o meu corpo em decomposição, ou seja, a minha carcaça.

Quando veio num vôo rasante, percebeu que eu não estava morto. Ao invés de dar meia volta e desistir de mim, aproximou-se do meu ser e deixou-me ser... alguém. Estava, assim como eu, curioso. 

Pois não?, disse-me este negro pássaro. Quero te fazer uma pergunta, repliquei. Por que, prossegui, persistes em me seguir? Houve uma pausa. Olhou-me como se já tivesse premeditado o nosso encontro. Mediu as palavras e finalmente disse:

Não vês que cheiras a carniça? Posso sentir essa fragrância de longe, isso eu te garanto. Ademais, continuou, não te portas como um vivo-morto? Tua rotina, teus passos contados que pisoteiam a mesma calçada há tempos... Nada resta em ti que não seja supérfluo, onde reside o teu mistério?

Sorri um riso amargo, meus dentes rangiam e minha meia dúzia de convicções provaram-se meras divagações, ao menos ali, sem muito fundamento. Isso me ocorreu em frações de segundo. Logo após alguns momentos de hesitação, enforquei o tal urubu e depois cuidei para que fosse cautelosamente enterrado com os seus comentários. Adeus, Mefistófeles!

Friday 1 May 2015

Fragmentos do feriado

Parafraseando Jimi Hendrix quando disse que é fácil tocar  Blues, mas difícil de senti-lo: fácil mesmo é sentir a vida - no que há de melhor e pior -, o duro é descrevê-la.

Sunday 19 April 2015

Água nocturna

A noite de olhos de cavalo que tremem na noite
a noite de olhos de água no campo adormecido,
está nos teus olhos de cavalo que treme,
está nos teus olhos de água secreta.

Olhos de água de sombra,
olhos de água de fonte,
olhos de água de sonho.

O silêncio e a solidão,
como dois animais pequenos que a lua guia,
bebem nesses olhos,
bebem nessas águas.

Se abre os olhos,
abre-se a noite de portas de musgo,
abre-se o reino secreto da água
que emana do centro da noite.

E se os fechas,
um rio, uma corrente doce e silenciosa,
inunda-te por dentro, avança, torna-te obscuro:
a noite molha as margens na tua alma.

(O. Paz)

Monday 6 April 2015

I am not I

"I am not I.
                   I am this one
walking beside me whom I do not see,
whom at times I manage to visit,
and whom at other times I forget;
who remains calm and silent while I talk,
and forgives, gently, when I hate,
who walks where I am not,
who will remain standing when I die."

Juan Jamón Jiménez

Monday 30 March 2015

Meios

Na sacada vejo as luas do meio-dia,
melancolia da meia noite.
Aqui tudo é metade.