Wednesday 28 December 2011

Letras trazidas pelos ventos nortes

Tal qual uma pilha, dois pólos - ou quiçá mais - me compõem. Pilhérias d´eus nascem, renascem, morrem e espiritualmente reencarnam: humores ruminados e atraídos pela maturação dos dias. Facetas caracterizadas pela bipolaridade do ser, das dificuldades do ter, das alegrias do viver, das dúvidas sobre como ou quando irás, filho pródigo, de veras desfalecer.

Encontrastes temporariamente teu norte. Pólos que viajaram na rosa dos ventos, és composto de matérias nem tão fortes. Apaixonastes pela oposição - foi n´outro lado do rio Atlântico que encontrastes tuas verdades das mentirosas perguntas que criastes: complexo mesmo é ser simples, uma virtude já profetizada pelo messias Camus.

Descobristes a liberdade na prisão. Vives a dois. Sentes a um. Pela alquimia dos dois corpos, divides a alegria com a herdeira inglesa dos fados portugueses e bebes do copo de mais uma desmedida paixão...

Tuesday 27 December 2011

The society of four stars





Films and their plots. Musicals and their cast. Plays and their context. Postmodern anachronism. Post-analysis: outstanding - only four stars, however. The press say, few critics complain, but, as usual, we do accept it: four stars. Where´s, indeed, the ¨mis-star¨ to complete the 5 stars from media constellation? Well, someone might try to be reasonable, it is a bit - yes, we became, because of our awkwardness, ¨sons of a bit¨ - difficult to express straight away, so... Speechless. In fact, less is a fashion word nowadays: less fat, less sugar, less stars, less faith. On the other hand, not being so Nietzschean, there is more: more bureaucracy, more indifference... As a result, we´ve got four stars and a moderate (shall I say artificial?) happiness...












- Picture from Being there.

Friday 23 December 2011

We ain´t strangers in the night.

While you were holding my hand, I had no thoughts. It was in the park - when everyone had stopped talking, barking, walking and when I had left the past. A time where the present became the future or something like that. My soul, my-self-serving-your-soul. We. And no one else. Will they understand it? Slide...

Friday 9 December 2011

A philosophical pub.

Verb to be, a classic one. Centuries ago, an english playwright, regarding this, asked himself and then he wrote: to be or not to be, that is the question. After a while, someone might have thought: Am I being myself? Or, thinking differently, when would I am (or not) myself? In theory - did I say ¨in theory¨? - this verb can represent an estate as well as a feeling. If you said ¨I am...¨, how would you explain it?




- He, indeed, finished his thoughts. We always tend to desire an end! Politely, he ordered an extra (not spare, pay attention, please) cold pint in order to understand the philosophical meaning of a beer.

Sunday 4 December 2011

A metamorfose de uns niilistas

O nascimento de uma nação de peças. Cada uma com sua (des)funcionalidade dentro de um contexto ordinário e convencional. Pensou-se, certa feita, num sentido para a vital ilusão da sobrevivência do ser - a auto ilusão foi e ainda é preciso. Houve insucesso. Há, com efeito, pouco ou quase nada feito e muito de impreciso. Para navegar, é preciso... Muito! Algumas peças, aliás, vêm com defeito de fabricação e curiosamente são essas - o que ainda nos é misterioso precisar - as que vêem além do ordinário e convencional: entendem a mediocridade como um sintoma existencial. Depois de deslocadas do mercado, descobrem com forçosa naturalidade que estão sós e tão 1ogo metamorfoseam-se ou resignam-se em niilistas-sócio-etílicas. Sabem que não irão mais - quiçá um dia isso foi já possível - se encaixar. Não há mais volta...

Sunday 20 November 2011

Habilitação



- Inspirado na palestra do escritor Marcelo Rubens Paiva.


A arrogância de uma apressada juventude fora desabilitada através de inspiradoras palavras de um ser fisicamente desabilitado. Aquilo que foi dito, um esclarecedor discurso em inglês de um brasileiro habilitado na escola da vida, traz, à luz da cega ignorância, mais uma iluminada lição de vida: há tanta virtude no simples...
(17.11.11)







- The Thames below Westminster (Claude Monet)

Friday 18 November 2011

Felizes irracionalidades

Talvez (utiliza-se o talvez por saber que não se pode possuir as certezas) sejamos os únicos seres que possuem o poder de discernir - quando isso acontece, é claro: discernir - fatos, desvendar os mistérios que os outros misteriosos seres nos permitem e experimentar certas alegrias que outros misteriosos seres alegres nos permitem - seria a felicidade também uma dependente alheia? Mas, talvez, sejamos os únicos seres que possuem a capacidade de errar instinto-racionalmente. O medo é aquilo que nos move e, em outro sentido, nos petrifica. O que aconteceria se... A mudança, uma dádiva quase divina, é para os poucos que percebem que há algo além do ordinário e que não necessariamente é misterioso. O medo ordena o ordinário e racionaliza o instinto do erro instinto-racional. Talvez por isso ou talvez por algo mais que isso, talvez sejamos os únicos seres ordenadamente medíocres; medíocres, porém instinto-racionalmente felizes...

Thursday 10 November 2011

Algumas artimanhas, outras manhãs...

Os dias passam e as verdades d'Ela se confirmam: carregas signo de uma certa inocência que ainda precisa viver muito. Na essência trépida do tempo, fora percorrido apenas parte do trajeto. Tanto encanto a ser vivido, tantos sentimentos no plural de uma vida singular - que um dia fora pensada como ímpar.

- Irás te metamorfosear e não será apenas numa bela manhã.




30.10.11

Wednesday 2 November 2011

Fear and loathing in: not so brave old world.

Would you like, Monsieur, to let a home. - Home or flat, Sr.? A home, neither motor nor motor-home, my dear: home. - I've checked in my system... Did he say about 'the system'' (oh, no: no system!)? - I've checked, as I told you, dear Sr., in my system: there's one available home, one availbale home named ''Sick''. Name's home: Sick. - Home: Sick, exactly, monsieur, one available home named "Sick''. Home, sweet home: home-sick-sweet-home. - It's a feeling, isn't, my dear Sr.? Home-saudade-home.

Wednesday 26 October 2011

Uma belo dia Sidarta acordou - estava morto. Quando sonhava, assim a gente sabia, significava que ainda estava vivo. Renascimento?

Friday 21 October 2011

A bíblia de Kronos

Mãos que fraquejavam e que faziam falhar. A tormenta era, com efeito, uma tempestade que impedia compensar o inesperado. In-ten-sa-men-te descompensado. No conforto, uma zona já conhecida, abrira-se uma grande cratera e o auto-controle fora perdido. Os verbos não mais se conjugavam e não mais se sabia - mesmo porque pouco ou nada adiantaria - diferenciar se era ¨feito¨ ou ¨fazido¨. O deus Kronos, do contrário de outros tantos deuses, não esclarecera seus mandamentos através de provérbios ou adágios: ó, desmedida maturidade!


- Se não há história sem a escrita, não há experiência sem sofrimento. (05.10.11)

Saturday 17 September 2011

Ricardito

Letras indigestas digirem-se-no contorno da batida do coração e não no estômago. O sentimento de perda é um, mais um. Não fosse seu ato de coragem, sua atitude desvairada seria diferente... Mas sempre há diferença. E, mesmo assim, nada desmancha o orgulho sentido por aquilo que foi feito, pelos traços - mesmo aqueles alguns sem muito trejeito - genéticos carregados ao longo de uma vida meio errante - e, quem diria, seu filho quer continuar seu legado!


- Letras indigestas e confusas expremem e de algum modo tentam exprimir algo ainda não dito: te amo, pai!

Saturday 10 September 2011

Tristes tópicos, felizes trópicos


Uma chuva de sangue rega flores cadavéricas. O polém que delas sai distribui o pecado compulsivamente. Pérfidas figuras regozijam-se. A morte se apresenta e decora a paisagem enegrecida por escarros pulmonares. Titubeantes intelectos vociferam. Indícios de uma velha era construída melancaoticamente por extremos: a alegria está em vias de extinção.




Budapeste, 8 de setembro de 2011.

Crepes

Entre ambos os lados, há o balanço: Danúbio. Romanos versus bárbaros. Barbaridades romanescas. Pestes, budas, cristos e judas misturam-se e divergem-se, separam-se e convergem-se. Quase o mesmo. Nessa peleia, depois de tanto, come-se crepe à francesa - indelicadeza minha é exorcizar a falsa tradição!




Budapeste, 7 de setembro de 2011.

Friday 2 September 2011

King´s view


Teacher Feijó, sorry about my ¨english¨.



One king sees. With only two eyes this lonely king sees - sometimes he doesn´t see. Someone sees a king - also with just two eyes. Both of them are see-king. Sick. Sick seek. They are sick as well. Trying to realize that there are too many wrong things with only two eyes each other... But - this word, that means almost the whole world, makes me scare: but - who is who? Who is correct? And what happens beyond god, good and bad?


Luccas Neves Stangler.
London, 22.08.12.


Pintura: Moment of transition - Salvador Dalí.

Thursday 25 August 2011

A biblioteca de babel

¨(...) Conheço distritos em que os jovens se prostram diante dos livros e beijam com barbárie as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra.
As epidemias, as discórdias heréticas, as peregrinações que inevitavelmente degeneram em bandoleirismo, dizimaram a população. Acredito ter mencionado os suicídios, cada ano mais frequentes. Talvez me enganem a velhice e o temor, mas suspeito que a espécie humana – a única – está por extinguir-se e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta....¨








A biblioteca de Babel,
Jorge Luis Borges - ao amigo que hoje faz aniversário e que já me acompanhou em algumas longas madrugadas.

Tuesday 23 August 2011

Are ¨we¨ the solution?


Com hipóteses
e teorias mil
nada se faz.

Falso microcosmo
que surge.

Com livros lidos
e dezenas de teorias
pouco se constrói.

Ou pouco
se tem construído.

Esfacelam-se letras,
escravizam-se pelas
melódicas vinhetas
e...
E?

Deseja-se um
rastro de (re)conhecimento
pelo pouco que resta:

Pela fresta da janela,
quando o nascer
do sol acontecia,
um casal é visto de mãos
dadas e atadas pela paixão.

Ahh, pai...
chão?
- Não é tão fácil assim, meu filho.

Livros,
teorias,
alegorias - deixe para ocupada pós-modernidade.

- Eu,
meu caro filho,
já estou envelhecendo,
já devo estar envelhecido,
carrego apenas lastros de alguma acumulada idade. (21.08.11)



Foto: Jacob Sutton
Edição: We are the solution.


Thursday 28 July 2011

Francisco Serafim

Se... Será? Fim? Será o meu fim?
- Serafim, meu filho, pára!

As dúvidas reverberariam durante mais algum tempo na mente do pequeno Francisco.

Friday 15 July 2011

O(utro) idiota.

¨Oh, so you are a philosopher; but you aware of any talents, any ability whatever in yourself, of any sort by which you can earn your living? Excuse me again.¨ The idiota - F.D.







Aqueles ponteiros em frente ao Tâmisa que faziam o famoso e imponente relógio badalar eram um lembrete: o tempo está a passar, a solidão quiçá. O rapaz da jaqueta de couro que por ali vi passar pegou um ¨takeaway¨ qualquer para fazer, ao que tive a impressão, render seus míseros vinténs. Parecia desconectado de todos aqueles turísticos sorrisos. Devia ser um cidadão londrino, notava-se seu cinza-humor-distanciado. Ao caminhar, via-se em sua mão direita, não tão claramente, mas via-se, um livro com a insígnia, digo, título, que parecia traduzir seu sentimento, como sentia-se naquele instante: O idiota. ¨Bem-vindo à confraria¨, sorriu-me um senhor, algum senhor chamado Dostoiévski - conhecem? (13.07.11)

Friday 8 July 2011

La caja de Pandora.

Ao amigo portenho Maurício.


Cada um e cada qual criara um (in)finito universo particular. Ou, como a Menina má diz, cada qual com sua caixinha. Nela, doses de experiência das mais diversas cabem: a paixão também pode ser incluída - apesar de não se enquadrar muito bem. Cabe a cada proprietário aprender a manusear o seu próprio objeto, mas, desde já, ressalta-se que não há instrução. Em alguma parte da caixinha, existe um setor chamado ¨área comum compartilhada¨. Costuma-se dizer que ali, quando se consegue perceber tal particularidade, é a melhor parte de toda uma vida. Também se fala que essa caixa, quando já se encontra ¨nos finalmentes¨, é coberta por uma outra maior, cujo o nome deriva do seu aumentativo, e que por fim é escondida a sete palmos debaixo da terra e que por caridade ou algum outro motivo não muito claro alguém coloca uma espécie de placa com os seguintes dizeres: Aqui jaz (mais) uma caixa qualquer.


Friday 1 July 2011

Traga uns tragos

Bebia para esquecer e esquecia-se de lembrar: foi para tão longe e descobriu que afinal de contas a felicidade estava tão perto... Deveria ter escutado a voz do rio, mas estava inquieto demais para tal façanha. Agora está a aprender uma lição difícil: sobreviver é mais difícil que viver! Precisou renunciar uma vida em nome do auto-conhecimento.

Thursday 30 June 2011

Profecias de um anjo bêbado

Recobrar os ânimos em meio à multidão silenciosa, escondida por detrás dos best-sellers de autoria duvidosa ou dos periódicos com artigos pouco confiáveis. Um mar de gente que nada fala, que nada parece sentir. Não falavam sua língua e mesmo que falassem... Tolas hipóteses! Vai ser gauche! - anunciara um anjo bêbado ao avistar o bom menino.



29.06.11

Tuesday 28 June 2011

Tempos (pós/hiper/diabos) modernos

caminhar em direção ao todo
e o nada encontrar

os pés e a longa caminhada denunciavam:
sofria de solidão

a neblina na noite,
a melodia de Luiz,
as luzes e os lampejos
enfatizavam a melancolia portátil:
estava embutida em seu ipod pequeno-burguês

dádiva de tempos (pós/hiper/diabos) modernos:
solidão

em vias de fato

hein?
(tu) vias?
de fato?

tristes trópicos,
tristes meridianos
(lembranças de Greenwich!)

o mar era de rosas - até então;
um oceano de espinhos,
agora que ela se fora,
a atual situação
até quando
?




Thursday 2 June 2011

Quase cigano

--> ¨Não é necessário, portanto, definir a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente, no que se convencionou chamar ato de amor, ou se entregam a um longo hábito a dois. Isso tampouco é original. Albert Camus - A peste.¨ 

Se pensas, Aparício começou a me dizer, que o tempo, este a quem chamas de maldito, é quem irá te fazer sentir saudades, engana-te! A distância e a calada das noites sós e frias, continuou ele, são as razões que te tratrão as futuras e presentes angústias. E, então, foi-se - ele, Aparício, já encontrara seu Paradeiro. E no meu distante e velho caso, restaram-me míseras vontades reminiscentes de você; você que é e está o meu agora, o meu tempo, a minha literatura de intensos prazeres... - isso é questão de posse?

Thursday 26 May 2011

Alegorias de uma experiência.


Bom dia, Sentido - da vida.
Bom dia sem...
Sem ter tido.

Dormiu sem ser um dia,
nem sabe o que virá amanhã,
pouco ou quase nada divertido.

Às vezes ele - o sentido - o acorda,
às vezes dirigi-se a ele
dizendo: Bom dia.

Às vezes volta-se e, apenas,
o diz que hoje será um dia.
Nem tão bom assim,
mas que será um novo dia.

O Absurdo também o acompanha.
Agora ele vai,
quem sabe não volta;
quem sabe?

Quem sabe algo aprende,
quem sabe ele renasce.

O tempo, esse maldito, dirá!






Quadro: Still Life: An Allegory of the Vanities of Human Life;
Autor: Harmen Steenwyck.

Sunday 22 May 2011

Algumas guiness e alguma melancolia...

A liberdade, do contrário daquele ideal que há tempos imaginei, tem seu preço. Seus juros são altos e a correção é cobrada dia-dia. Não nos é mais permitido, tal qual uma alegoria kafkiana, transpor certas barreiras - a infinitude é construída em solo arenoso e as realidades desmoronam-se rapidamente. E, desse modo, olhos não são mais olhos, dentes não são mais dentes:

- Londres, à moda draconiana, proibiu a entrada de deus.




Sunday 15 May 2011

Babel without translation.




Um pequeno orifício inglês
prostrara-se diante de mim.
E não era mais um sonho.

O que teria por detrás de tudo aquilo?
Qual linguagem falaria?
Falar?

Seria, nesse caso,
um absurdo falar.

A linguística provavelmente
não resolveria a situação
ou, com uma lógica diversa,
resolveria, mas d`outro modo:
no sentido mais gestual possível.

A demora foi de tal modo
que o instante não
se traduziu.

Parti sem entendê-la.
J. Miró tampouco entendi - e tudo se passou no Tate.

Wednesday 11 May 2011

Algumas anotações sobre o (re)nascimento ou um café com Hermann Hesse.

Depois de certa atribulação, projeções, angústias e alguns momentos incertos, hoje, em Demian, leio uma palavra que há tanto procurava, mas que nas profundezas da mente já esquecida estava: renúncia.
É preciso imaginar-se renunciando um mundo para encontrar outros - o auto-exílio é preciso!
Antes, porém, de renunciar as vicissitudes que tenho, preciso, no cantarolar do rei Roberto Carlos, lembrar que existo. Um ser não presentificado ou ausente jamais (uma palavra difícil e pouco consoladora) renuncia.



Libertar-se na introspecção,
voltar-se para si.



01.04.2011

Tuesday 3 May 2011

Erlebnis.

A mão trêmula não sabia
por onde começar e percorrer.

Era tudo tão intenso e tão forte
que a o desejo fez desaparecer a prudência.

E eu observava e
mapeava todas as curvas.
As suas, por certo.

No meio de toda aquela situação,
carregávamos signos de malícia.

Desdenhávamos os convencionalismos baratos,
fazíamos ruídos
e tudo era assim.

Vivendo numa moral quase pagã,
fazendo alusões à Baco,
as vespas alheias pouco importavam.

A tentativa de aprisionar o tempo
pela falta de prudência foi carnal,
onde marcas externas foram deixadas como
parte da memória.

Lembraremos - até, pelo menos, cicatrizarmos nossa aversão ao tempo!

Thursday 21 April 2011

Último tango portenho


Precisara se libertar das amarras
E assim fez.
Precisando dar explicações
Desvencilhara-se.

Algo de comum,
Algo de casual.
Tudo, ou melhor, nada planejado:
Virtudes do acaso, certamente.

Sentado na mesa,
Assim tudo começou.
Surgiu o motivo da fuga:
Ela.

Balzac, és um sábio!,
Assentiu o jovem escapista.

Ele ousou.
Contornando a situação de tal modo
Fez aquilo que podia.
O deleite da incerta situação.

Ping-pong – lembrara de Cortázar:
Apresenta-se,
Representa-se
E, com ela, escapou-se dali.

Lágrimas do céu caíram – logo agora que conquistara sua atenção, céus!
Mas nada mais importaria:
Nome, renome, idade.

Apenas o tango,
O momento,
Lapsos de felicidade.

Tuesday 12 April 2011

Matemática do sentimento.

À bm.



Somam-se dois mundos (o novo e o velho)
e, como resultado,
tenho sua boca.

Entre seus pares de perna,
o mistério.

Às vezes ausente,
às vezes sério, admito:
sua transitoriedade
é, para mim,
circunstancial e perene.

De tantos nomes e pessoas existentes,
você sabe - és incomum.

Subtraia minhas mentiras,
minhas omissões.
Multipliques os prazeres
e dividas, comigo, o momento.

Num canto,
em qualquer lugar.

Sussurros,
cabelos,
seios.

Anseios,
beijos.

E, tal qual um matemático, simplifiquemos:
apenas vivamos!

Friday 11 March 2011

O amigo do jovem Werther.


A navalha lentamente delineava um corte transversal. E o jovem Werther, desacreditado, encontrou alguém que compartilhasse com ele seus sofrimentos... Levou consigo meia dúzia de recordações e como último pedido, em meio ao sensato desespero, exigiu que não o coroassem com rosas...




Artista: Frida Kahlo
Título: The two Fridas - 1939.

Wednesday 9 March 2011

Insônia no vale verde.

Naquela circunstância, onde meu microcosmo estava em sua órbita incomum, tudo girava. Com a musicalidade mecânica de Trentmoller, tudo girava. Era como se não houvesse miséria, preconceito ou deuses. Circunstância única, pensei. Acordei. Entorpecido pela droga de nome realidade, acordei.

Buscando a felicidade no lado artificial das coisas, depois de acordado, é que vi a natural podridão dos fatos, parte da realidade e suas diversas sensações.

Wednesday 2 March 2011

O lado maquinal do mecânico.

Ali não havia futuro. Restava-lhe apenas o presente: acorda, levanta, come, sai, trabalha, retorna, descansa, volta e depois trabalha, trabalha, retorna, banha-se, lê, come, escova e dorme. Aos sábados, varia: trepa - quando o corpo fadigado, é claro, permite. O eterno retorno. Assiste, isso, assiste. Não é protagonista da sua vida, apenas espectador. As utopias, ali, onde não havia futuro, são slogans ou novas marcas de pias. Pias Uto. Uto pias, soa melhor. Melhor? O mecânico vai dormir, chega de pensar em pias.

Monday 28 February 2011

O dente.

Acabara de ler Gogol - O nariz. Soltou uma leve risada e admitiu que a literatura russa era para poucos. E talvez ele também estivesse incluído dentre esses poucos. E isso ele também admitiu.

Levava uma vida medíocre: pela manhã, duas torradas e um longo gole de café. Meio atrapalhado, às pressas, saía para o trabalho. Caixeiro-viajante, sua profissão.

Gabava-se de suas conquistas. Já se deitara com algumas mulheres - e acreditava que havia pouca variação nesse gênero. Um olhar despretensioso, uma abordagem engraçada. Trajava, ao cortejá-las, uma máscara de intelectual. Caía-lhe bem. E isso ele também admitiu.

Pela tarde, a labuta. Vendia relógios cucos. Cada dia estava em um local diferente. Em qualquer parte de sua viagem, sempre parava e apreciava, pelo menos, um longo gole de café. Trazia-lhe um pouco mais de ânimo.

Elas, as cortejadas, diziam adorar homens diferentes, mas em nada mudavam. Nem faziam questão, talvez. E ele - pacientemente - sabia que reclamariam: todos os homens são iguais. Mas ele não, ele era diferente, diziam elas ou ele mesmo se fazia crer.

Acabara de ler Gogol – O nariz. Soltou uma leve risada e admitiu que a literatura russa era para poucos. Ao sorrir, notara que lhe faltava um dente. Não, não era um dente, e sim o dente. Que situação!

Resignava-se ao ouvi-las reclamarem. Os fins justificam os meios; leu, provavelmente, numa edição reader`s digest. E o fim, para ele, era a conquista.

Crendo ser meio absurdo a perda do dente – lera que o major Kovaliov havia perdido o nariz, mas não, o dente não! Como, sendo um caixeiro viajante, sujeito de admiráveis conquistas, iria lidar com toda essa situação? O que pensariam as moçoilas de tudo isso?

Pela noite, postava-se defronte a Júlio Cortázar, Mario Vargas Llosa ou Émile Zola. Entrecortava as páginas. Lia-os em pormenores e simultaneamente como se fossem os últimos escritos – portanto valiosíssimos – da humanidade.

Levava uma vida medíocre. Mas agora lhe faltava o dente. Gabava-se de suas conquistas. Mas agora lhe faltava o dente. Pela manhã, pela tarde ou pela noite. Ainda lhe faltava o dente. Nada mais importaria em sua vida. Faltaria o dente.

Lembrou-se: há situações que beiram o absurdo. Onde estaria o dente? No mesmo lugar de sempre: em sua boca, de onde nunca saiu. Os detalhes...

Monday 21 February 2011

Ela.

Ela, grandiosa,
estava, ao que me parecia, imóvel.
Meus olhos, ao mirá-la, também imóveis.
Ou inertes, como queira.

Por onde que que eu estivesse,
ela também estava.
Ela, grandiosa.

Inspiração de tantos e tantos.
Mesmo quando acanhada,
escondida pelas formações um tanto quanto diferentes,
brancas, mas diferentes,
ela, grandiosa, lá estava.

Disseram - há quem duvide!
que ela já foi cortejada pelo cosmonauta,
digo, astronauta Neil Armstrong.
Ela, grandiosa.

Também afirmam, os seus admiradores,
que ela é de fases,
o que me faz estar ainda mais apaixonado por ela, a lua.

Friday 18 February 2011

Uma tragédia, possivelmente.


Todos os dias ele percorria aquela minúscula rua. O trajeto era sempre o mesmo: nunca mudava. Após pequena caminhada, sentava-se no banco da praça e apreciava o céu.
Chamavam-no de louco. Dizem, alguns, que sou loucura variava - com o clima, possivelmente.

Bonito chapéu, doutô - alguém disse ao louco.

Minutos depois, quando percorrera todo aquele caminho de volta e quando já estava deitado em sua cama, faleceu. Aos 84 anos, quando alguém o notara, faleceu - duma felicidade trágica, possivelmente.

Tuesday 15 February 2011

Des(a)tino.

Ela desatinou.
Ele, apaixonado por ela, também.
Destino?
Não, não creio.

Monday 7 February 2011

Diante do epitáfio

A primavera finalmente chegara na Europa. Lembrei-me de Praga e de sua tão comentada primavera. Recordei-me daquele (mais outro) refém da modernidade que, para mim, fora apresentado pelo estimado amigo, o homem que ficou vesgo, quando conversávamos sobre o temível ‘’sistema’’. Aquele sujeito, depois de ser-me apresentado, compartilhou, comigo, noites mal dormidas ou, como ele dizia, sonhos intranquilos.

Suas incompreensões – por mais difícil que seja imaginar! – eu parecia compreender. Ríamos, sofríamos. Sabíamos, também, mesmo que às vezes discordássemos, que a modernidade, de quando em quando, poderia ser considerada uma religião. A burocracia – apesar de não ser divina – era a mesma: Ao invés de papas ou pastores, políticos e politiqueiros; ao invés da sagrada escritura, códigos e leis. Não tinha Deuses ou Deus, e sim juízes e funcionários com altos cargos. As preces também inexistiam. Foram substituídas pelos intermináveis processos. E como nas outras religiões, nunca se chegava a falar com Ele propriamente dito, apenas com transeuntes, sujeitos transitórios, intermediários, nem sempre confiáveis.

E ele, sujeito introspectivo, corcunda, individual, alegórico-não-mítico faleceu. Dizem que foi a tuberculose. Outros especulam que sua morte se deveu a outro tipo de infortúnio. Não se soube explicar. De qualquer modo, deixou, como legado, um testamento. Ah, não fossem os papéis... – refletia o homem que ficou vesgo. E nele, no testamento, pediu para que seus escritos fossem queimados.

A primavera finalmente chegara na Europa. Quando chegada essa estação eu me encontrava na Áustria, prestes a visitar o agora falecido amigo tcheco que o homem que ficou vesgo havia me apresentado há três anos.

2011, no cemitério. Diante da lápide descubro que aquele sujeito incompreendido que havia compartilhado noites de insônia comigo falecera no ano de 1924, no dia 3 de junho. Data diferente daquela que eu imaginava – em algum dia de 2009, quando 33 anos eu tinha. No epitáfio, além do seu nome, Franz Kafka, e da data que faleceu, inscreveram os dizeres: Como um cão!

Ri.

Procura-se, pensei, em tudo o que se vê ou não se vê, sentido, mas afinal de contas, nada se compreende.

Não soube se realmente cheguei a conhecer Franz. Apenas ri.

Sunday 6 February 2011

Devagar, vagando, divagando.

Ao ler aquela sagrada obra de literatura referência nos pampas e em todo território da Ilha de Vera Cruz, bem aquela que tu, mestre, presenteou-me, fico, em algum lugar do meu pensamento a vagar.
Vagarosamente os fatos voltam.
Repentinamente eles voltam.
Não há mais volta, a partida foi adquirida num bilhete único: somente há a ida.
O mestre partiu.
E as palavras?
Deixam-me, apenas, divagando.

Monday 31 January 2011

Janela

Era espantoso perceber o quanto aquele homem envelheceu! Cada ano que passava, ele envelhecia dois. Ao que tudo indicava, ele tinha, neste momento, uns 120 anos, praticamente o dobro da minha idade. E eu o conheço há um bom tempo, desde que me reconheço como gente - aos 6 anos, talvez.

Sempre morei no centro de Florianópolis, Rua Vidal Ramos. O apartamento tinha dois quartos e eu, desde então, morava com a mamãe e o papai. Depois de anos, os dois se mudaram e me deixaram aquele canto que sempre morei e que escondia os meus segredos: a primeira namorada (que sempre ficava às escondidas da mamãe), a admirável vizinha Beatriz...

Ali, naquele apartamento, eu também conheci aquele homem, aquele espantoso homem que agora eu o vejo velho. Disse ''agora'', porque eu o já conheço de outros carnavais, quando novo era... Éramos, no início, de certa forma, fisicamente parecidos, apesar de eu não ser tão fisionomista. Divergíamos, porém, nas atitudes. E o que mais soava estranho é que somente eu podia vê-lo pela janela do meu abafado quarto.

Através dela, quando 11 anos tinha, vi aquele estranho beijar uma linda garota que me pareceu ser mais velha do que ele. Aliás, as balzaquianas eram, acima de tudo, sua preferência. Aos 16, vi, ao que tive a impressão, sua primeira noitada - se é que você que me escuta, lê ou sente entedeu. Pelos sussurros, pensei, de curta duração; não duraram mais que 4 minutos.

Daquele momento em diante este mesmo ritual, de quando em quando, se repetia: Ela entrava. Dizer ''ela'' é um eufemismo. Elas, uma a cada vez e em dias diferentes, entravam. Abria um cabernet sauvignon argentino, chileno ou sul-africano. Dependia muito do seu humor. A música, também como parte integrante do ritual, eu já sabia: Miles Davis. A luz era dum amarelo-queimado-romântico-francês (disse francês porque miticamente acreditam que os franceses são, sem exceção, românticos). Na sequência, ela despia-se. O fato se consumava. Ela despedia-se. Outro dia, quem sabe, ela voltaria. Particulamente eu não tinha mais esperença de revê-la com aquele instável homem.

Quantas e quantas vezes eu o via - isso apenas através da minha janela - só, concentrado, lendo e relendo a obra que a jovem mais delicada que eu notei ali adentrar lhe emprestara [O amante, Marguerite Duras] e que com tanto esmero ele, aquele misterioso homem, a tratou, quase como uma rosa. Com ela a música mudava. Cartola era o tema. E o silêncio era sagrado. Que bobagem! As rosas não falam...

Por vezes julguei que aquele homem era estranho. Indiferente, melhor dizendo. Noutros tempos me fiz acreditar que ele me era familiar. Agora seu físico se diferia - e muito! - do meu. A familiaridade se devia pelos gestos e atitudes. Cheguei (inclusive) a pensar que aquele homem bem poderia ser meu amigo. Devaneio meu, sem dúvida alguma.

Aquilo que eu gostaria de ter experimentado, ele já experimentara. Aos 18, notei que ele, por ser mais velho, tornara-se intelectual: Lia Marx e, naturalmente, concordava com o anarquismo de Bakunin. Enquanto eu tinha 18, ele aparentava ter trinta e poucos anos. E eu o continuava observando pela minúscula e decadente janela do meu quarto.

Ricardito, disse minha mulher na noite do meu sexagésimo aniversário bem no instante em que eu percebia aquele homem envelhecer, o que tanto você olha nesse espelho? És, por acaso, o narciso do século XXI?

Ali, descobri que o espantoso homem que tanto admirei envelhecera e que meu quarto, do contrário daquilo que tanto imaginei, não tinha sequer uma janela. Envelheci sem me perceber e fui ser sem ser percebido.

Friday 28 January 2011

Um tempo para o tempo: a História vai passar.

Sentei.
Sentou-se. Ela sentou-se.
A História sentou-se ao meu lado e pediu um copo.
Daquele mesmo líquido que eu bebia: feito de grãos de cevada.

E pensei...
Há quem sofra a História.
Há quem construa a História.
Há quem se sinta excluído por Ela.

Depois de alguns muitos goles ela admitiu:
Não tenho e nunca tive pretensão de ser ciência - por que seria?
Chorou e, aos prantos, continuou:
Confundem-me com a memória e dizem que sou arrogante.

Agora proclamam meu fim.
Alguns até dizem, continuou Ela, que já cheguei ao meu fim.
Outros questionam minha existência: para que ou para quem eu existo?

É coisa do Tempo, esse sujeito mal construído.
Culpem-no!

A História calou-se.
Depois de alguns goles calou-se.
Nunca mais falaria - agora ela teria, mais do nunca, seus (confusos?) intérpretes.

Monday 24 January 2011

Um presente do mestre RC.



A caneta que outrora escrevia já não escreve mais.
O livro autografado pelo mestre que outrora recebias já não recebes mais.

Na sua frente, ao lado da cama, atrás de sua estante de livros e filmes meio empoeirada, ele vislumbra a janela. Tem uma visão - e não é a do paraíso.

E se pergunta: quantas horas mais?

Esquece tudo isso, termina seu chá e se delicia com o incidente... O de Antares, por certo.









Imagem: Sem título.
Autora: Camila do Rosário http://www.flickr.com/photos/camiladorosario/3853749839/

Friday 21 January 2011

Dúvidas da labuta ou a incerteza sustentavél do ser.

Apresento-me:
Sou Lida.
Trabalho - e muito!
Só lida.
Lida do dia-a-dia.
Sólida?
Quem sabe.

Tuesday 18 January 2011

Mudanças inertes.


Em instantes muita coisa mudaria. Ou não. Ele escreveu. Houve, no meu coração, um leve descompasso. Admito, não fora tão leve assim. Retomo: houve, no meu coração, um forte descompasso. Não soube o que dizer, apenas estava no aguardo.

Folheava, enquanto isso, Ryûnosuke Akutagawa. E para ser mais exato, lia o conto ''A vida de um idiota.'' Acompanhando as linhas, deparei-me com certo trecho que me fez estar levemente comovido. É difícil aceitar, mas, agora me corrijo, o trecho deixou-me verdadeiramente comovido: ''A vida humana não vale nem mesmo um verso de Baudelaire''.

Depois de confundir-se com Ícaro e portar a artificialidade dos anos - esse ilustre escritor da terra do sol nascente assumiu ter adquirido asas artificiais -, ingeriu Veronal 0,8. Encontrou-se, deduzi, com Caronte.

Mesmo sendo oriental - agora quase nada mais importaria - exigiu falar com Ele. Responderam, em questão de segundos, que Kafka, assim com Buñel e Camus estavam, também, à espera.

Acordei de sonhos intranquilos. Aos poucos me acalmei. Havia muita gente que há algum tempo exigia, igualmente, respostas. Depois desse incidente, talvez por imprudência, acaso ou destino continuei a viver. A espera é grande.








Obra: Musas inquietantes
Autor: Giorgio de Chirico.

Wednesday 12 January 2011

A certeza de estar só...lido



Havia uma separação. Sólida, separados pela solidez. Dois mundos estavam separados e essa separação era sólida: de um lado, um menino; do outro, uma menina. E a separação se dava por uma parede de concreto. Mas o que para mim não se tornava concreto era, com efeito, essa separação. Tão próximos, e, ao mesmo tempo, tão distantes.

Assim, pregavam os manuais de sabedoria que, assim se proclamavam, diziam-se modernos, contemporâneos, pós-modernos ou, quiçá, hipermodernos. Confundiam-se aos montes. Apenas uma coisa, dentro de todo esse imaginário temporal, eu considerava fato: a sólida separação.

Não sabia, ao certo, muita coisa. Apenas não entendia a solidão daqueles seres. Estavam solitários. E quando, assim me referi, digo, falo sobre os dois. Ele, com seu brinquedo, só. Chamava-se Bruno. Ela, também com seu brinquedo – creio que era uma boneca -, só, modernamente só. Li, dia desses, em Vilém Flusser, uma citação do filósofo José Ortega. Disse que ''eu sou eu e mais a circunstâncias.'' Depois filosofei – e também comecei a crer que a idade nos torna doutores em filosofia: a solidão também é uma circunstância?

Temo estar demasiadamente saudosista. Os anos – por instantes refleti – nos deixaram sós e a sós? Quem poderá entender o amor se se tem amado pouco? O saudosismo remói. E os fatos contados através dele têm sido desconexos e têm produzido efeitos desconcertantes. E assim tem sido.

Tínhamos, lembro-me da minha eterna infância, coisas em comum. Compartilhávamos machucados e histórias sobre beijos roubados. O que, isso nos dias de hoje, mudou? A solidez, estupidamente arrisco. Quem sabe ainda existam experiências a serem compartilhadas, mas, talvez hoje, resistimos – ou nos fazem resistir – a idéia de compartilhá-las, dividi-las e, quem sabe também por isso, as crianças vivem sós.

Soou o alarme: Jorge, é hora do seu almoço! Pára de resmungar e coma logo. E para não deixá-lo sozinho e falando sozinho, hoje e apenas hoje eu te faço companhia.












Quadro: A memória
Autor: René Magritte

Sunday 2 January 2011

Reveses do ano

E por que nada é tão mais novo? A mãe, quando escutou essa pergunta do seu pequeno rebento, Gabriel, em meio à multidão em plena virada do ano novo, contrangeu-se. E não era para menos.

Tudo parece tão artificial, mãe - continuou. Todos vestem branco. Branco por causa da paz. Mas todos estão aí para fazer baderna. Os homens, de tanta malhação, parecem com bonecas infláveis. Parecem de plástico. Até a taça de champagne é de plástico! - notou uma linda jovem que estava ao meu lado.

As mulheres... Bem, as mulheres parecem bonecas de cera. São quase intocáveis e se acreditam portadoras da pureza... Não, não é o refrigerante Pureza. Digo, elas parecem que são de porcelana e se declaram frágeis...

Antes da meia-noite, todos acabam com suas desavenças, porque agora é tempo de renovar! Não importa o que você fez, não importa! O importante mesmo é o ano que virá, não é mesmo, mãe?

Um breve momento de silêncio se fez segundos antes da virada. Gabriel se calou.

5,4,3,2,1...

FELIZ ANO NOVO, filho. Agora vá para casa que amanhã começa tudo de novo!