Sunday 25 July 2010

O bigode, a all-star ou a [falida] intelectualidade pós-moderna.





Vislumbra-se, com a pós-modernidade, o estereótipo do antigo letrado – hoje chamado intelectual: uma biblioteca imensa em sua casa, acompanhado de um bom cachimbo, uma barba à moda Fidel – resquício do seu ego comunista – e, para os mais jovens, um tênis do Chuck Taylor. Embalado – pois isso não poderíamos esquecer! - pelo som de Lady Gaga.


Em suas imensas estantes, obras de Bakunin – atrás do pai do anarquismo, um livro “o que é o anarquismo?” Pois, afinal, não se pode revelar para os demais amigos intelectualíssimos que é, por excelência, um analfabeto funcional da esquerda stalinista – à D.H Lawrence. Talvez um Paulo Coelho na sua prateleira para se mostrar próximo do grande público. Viu? O intelectual pós-moderno não é, como outrora se pensava, tão distante da massa. É lógico que não faz parte dessa estúpida massa, à medida que ele, em sua confortável sala de estar anti-comunista, divaga sobre diversos assuntos de profundidade abissal. Mesmo que quiséssemos, não entenderíamos a tal profundidade...


O iluminado pós-moderno, então, resolve lecionar para os sem-luz. Acredita que sua intelectualidade não pode ser alcançada, mas que fará o possível para “transmitir” parte de seu conhecimento para os alunos; achando, no seu universo intelectual, que o conhecimento é tal qual o sangue; que pode, assim ele pensa, ser transmitido. Assim, acredita que a razão – partindo da circular idéia iluminista – a ser ensinada será a salvação. Que a educação será a fonte de resolução, a panacéia universal... Que tipo de educação? Educação formal?


Gabriel García Márquez diz que aos sete anos – citado no livro de István Mészáros* “A educação para além do capital” – teve de parar sua educação para ir à escola. Saiu da vida para entrar na escola. Percebe-se, aí, o divisor de águas: a escola não acompanha as diversas realidades. Não leva em conta as diversas educações. Para Mészáros, discípulo de Georg Lukács, a educação atual – chamada por ele de formal – é mercantilizada: compactua com a incorrigível lógica do capital. Dessa maneira, acredita ser impossível uma real mudança quando o sistema vigente (o capitalismo) impede maiores avanços – não trabalhemos com a idéia positivista de progresso, e sim avanço. Isso porque, na expressão István, “uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança.”


A educação formal, para o autor, serve apenas para contribuir com a chamada “internalização”. Um parênteses: há motivos suficientes para se acreditar que há um condicionamento – no sentido menos reducionista de B. F. Skinner – escolar que desencadeia em um processo de internalização (resignação). E o que aprendemos nesse confuso processo? Será, como diz o pensador húngaro, que a aprendizagem conduz à auto-realização dos indivíduos como ‘indivíduos socialmente ricos’ humanamente (nas palavras de Marx) ou ela está a serviço da perpetuação, consciente ou não, da ordem social alienante e definitivamente incontrolável do capital? Trabalha-se com a idéia de que uma real mudança pode ser feita com reais intenções. Qual a real intenção da educação nos moldes de hoje? Gozo estético da intelectualidade pós-moderna? Um adorno? Se Theodor Adorno (Adorno para os mais íntimos) soubesse que seu nome é usado em vão... Pobre Adorno!


A intelectualidade pós-moderna fala muito em falta de “cultura”. Que a massa, em se tratando de educação, não possui cultura. Nem um pouco de cultura. Estarão certos disso? Posso perguntar aos universitários? – disse um famoso apresentador judeu da [criticada] televisão brasileira. Longe da luz que os ilumina, os intelectuais pós 11 de setembro entram em contradição: há uma diferença não percebida por eles. Uma coisa é cultura – que, aliás, todos nós, meros mortais não intelectualizados, temos -; outra, conhecimento. Para seu grandioso conhecimento, intelectualidade, não há, de modo específico, somente uma “cultura”, e sim “culturas”. Talvez esse conceito esteja ligado à idéia de idiossincrasia. A cultura – sendo bem metodológico – pode ser o emaranhado de hábitos, crenças, credos praticados por uma pessoa, um grupo ou grupos. É um conceito abrangente que pode abarcar diversas explicações. A cultura de tomar café pela manhã, ir ao parque fazer piquenique etc. Conhecimento, para seu agigantado conhecimento, intelectualidade, está ligado à noção de um processo de “aquisição” de informações, noções, teorias, teses, desenvolvidos ao longo da vida. O conhecimento é, na verdade, “conhecimentos” e talvez esteja inserido na cultura. Deve-se, com efeito, abandonar a idéia de que existe uma e somente cultura, um e somente um conhecimento.


Feita a diferenciação entre cultura e conhecimento, agora coloquemos “fermento na massa”: Será que a educação atual leva em consideração os diversos conhecimentos? Será que ela, composta pela intelectualidade pós-moderna, respeita as diversas culturas? Entre outras dúvidas, certezas nos foram apresentadas: O bigode e all-star lhes cai bem. Faltaram-lhe maquilagens e um nariz de palhaço, porque o circo educacional está de cartaz até não-se-sabe-quando... E vocês, intelectuais, são a atração principal. E nós, os da massa, somos, como sempre, os que esperam, os que assistem.













* Agradecimento à mãe da Sara, a doutoranda Rose, por me apresentar Mészáros!

Foto: Sebastião Salgado

Saturday 10 July 2010

Balança, filho!

Balanço vai, balanço vem. O cachorro ao meu lado. Acendo, de modo furtivo, um cigarro. A fumaça sobe. Enquanto isso, o balanço vai, o balanço vem. Nada tenho a esperar: a esperança não existe. Existir ela já existiu, mas vive – hoje – amargurada.

De frente para o mar, ficava a esperar. Acreditava que algo além-mar pudesse melhorar a situação. Que situação! Era bom de mais para ser verdade. Verdade, algo que não mais existe. Existir ela já existiu, mas vive – hoje – amargurada.

Caminhava sempre. Aos sábados, aos domingos. A feirinha era meu destino favorito. Que prazer eu tive! O prazer agora é inexistente... O prazer já existiu, mas vive – hoje – amargurado.

Ao entardecer ficava emudecido. Havia, naqueles momentos ensolarados, emoção. Emoção não existe mais. Emoção já existiu, mas vive – hoje – amargurada.

O balanço vai, o balanço vem e continua a existir. O cigarro também. Pai, disse o futuro herdeiro do meu fado, por que esta corda no pescoço? Amargurado disse: Balança, filho, balança!

Assim encontrei a liberdade. Livre! Restou ao meu filho descobrir, também, o caminho.

Saturday 3 July 2010

O silêncio gritante pelas mãos









Mãos que falam, mãos que gritam, mãos que calam...




Obra: El grito II, 1983
Artista: O. Guayasamín