Friday 27 February 2009

Mulheres de Atenas


Vamos logosofar. A logosofia busca o sentido das coisas da vida, eu também. Uma das coisas que busco é o porquê da traição. Comecemos do começo, é lógico.
Pela ordem natural do universo e por vários outros motivos, o parceiro (macho) ideal, independentemente da espécie, é aquele que mais tem condição de perpetuar sua raça. Ora, isso se deve por causas óbvias - apesar de que o óbvio nem sempre é tão claro para todos. Parece estranho, mas nesse caso de procriar, não existe nenhuma diferença entre o animal racional e o irracional. Basicamente é a mesma coisa.
Mesmo que inconscientemente, a mulher busca o homem que possui (além do companheirismo, sexo, amor) uma característica marcante: força. É isso mesmo, a força. Força no sentido de se impor aos adversários, como é o caso dos leões que brigam por território, força no sentido de proteção à prole, enfim, força no sentido amplo da palavra. Não entenda como uma apologia às brigas, não interprete mal. Ainda logosofando: nenhuma pessoa escolhe a outra como parceiro porque os dois se completam. Esta história de metades opostas que se completam é uma farsa. Se assim fosse, todo “pagodeiro” se casaria com uma “roqueira” e vice-versa. Não é isso que se vê. Salvo exceções. Eduardo e Mônica são a exceção.
Mas afinal, como se dá a traição? Não sou Freud, mas tento explicar.
Veja que, antes das “vias de fato”, é necessário que as duas partes se conheçam. Uma simples noite numa boate já é um começo. Sobre isso, Schopenhauer dizia que, assim como os pavões, os homens dançam nas boates com o objetivo de se acasalar. Olha outra vez o inconsciente agindo. Retomo o foco. No momento em que se conhecem, gera-se uma expectativa entre ambos. No caso feminino, a mulher cria uma projeção, assim como a de um projetor na parede, errônea de determinado homem, por exemplo. Acredita que o mesmo é o ideal. Dizem que nove meses depois é que se vê o resultado, ainda não sei sobre isso. Como eu dizia, quando a projeção se torna realidade e a realidade não é bem aquela esperada, começam os indícios de insatisfação. Insatisfação gera mais insatisfação, é um efeito cumulativo, é quase que uma “bola de neve”. Aquele homem não é mais aquele Homem. E mesmo tendo brutais diferenças entre as mulheres de hoje para as de Atenas, elas ainda buscam a tal força, o amparo. Sem isso, a probabilidade de traição aumenta. É claro que nem toda separação ocorre com traição, é para isso que existe o diálogo e, pelo o que eu saiba, dá-se entre duas pessoas, no caso marido e mulher. Quando chega o fim da projeção, questiona-se o motivo de não ter dado certo o relacionamento. Claro que deu certo! Pelo menos momentos antes da insatisfação gerada. Assim, o grande sociólogo Sandro Sell, o qual tenho grande admiração, dizia e ainda diz que não há culpado na separação do casal. Não foi o fulano ou a fulana que acabou com tudo, o que não deu certo foi a relação entre os dois.
Meu único conselho, “Ladies and Gentlemen”, é o mesmo do Chico Buarque; “Mirem-se no exemplo, daquelas mulheres de Atenas...”

Sunday 22 February 2009

Ser ou não ser, eis a questão


Carnaval. Tempo de jogar todos problemas para cima e se divertir. A velha e infalível política do pão e circo. Pessoas bebem, pessoas morrem. Mas essa não é a questão a ser discutida. Homossexualismo, essa é a questão.
O preconceito com essa opção sexual é gritante. Homossexuais são acusados de ser a escória da humanidade, os desajustados sociais. A lei, bem como a bíblia, garante que somos todos iguais. Parece que não é isso que acontece. Acredito que o conceito de igualdade mudou. É a única explicação plausível.
Voltamos ao carnaval. Com tanta fantasia para se vestir, as pessoas, principalmente os homens, usam trajes exóticos e se comportam como os tão perseguidos homossexuais. Que ironia! Bem vindo à sociedade contemporânea. Um paradoxo. Um claro enigma.
Então por que toda essa homofobia? Elementar, meu caro Watson. Junta-se uma sociedade machista com uma ignorância sem tamanho e tem-se como resultado o preconceito. É simples, é exato, é matemático. Resta saber até quando essa visão ultrapassada de modelo social persistirá...

Monday 16 February 2009

Vou-me embora pra Pasárgada

A imensa maioria da população não pára para pensar; logo, segundo o raciocínio de Descartes, não existe - ou pelo menos não deveria existir. Por que pensar se é mais fácil fechar os olhos e ignorar a realidade?

- Ahhh, mas se aquele miserável não tem dinheiro para comprar a fralda do filho o problema é dele e não meu!
Pensa o capitalista convicto.

- Não dê bola para esse mendigo, vamos logo à casa, amor, porque quero assistir o Domingão do Faustão. O Estado é que deve tomar conta dele!
Diz uma intelectual senhora ao seu marido.

-Poxa, se eu tivesse como te ajudar...
Afirma um falso moralista a um necessitado.

E essa parcela da população que não pára para pensar é a mesma que depois reclama da criminalidade. Reclama não, esperneia. Aquele mesmo indivíduo marginalizado socialmente por essa população, depois de tanta humilhação, depois de várias tentativas frustradas, busca o crime. Pronto. Agora não é mais o necessitado, agora é o marginal com potencial de seriall killer que não quer saber de trabalho. Mudou o paradigma. Antes era a vítima, agora o "meliante". Depois de roubar aquele mesmo capitalista convicto que o negligenciou restou a dúvida: qual é o lado mau da história? O suposto marginal, que buscava dinheiro para comprar a fralda para seu filho, ou o "burguês" (utilizando um termo hoje demodê), que simplesmente virou as costas para a "realidade"?

Roubar não é certo. Aliás, um erro não justifica o outro, todavia o sujeito precisa viver. "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", já retratava a banda Titãs. Não é somente um bolsa sei lá o que que vai fazer a diferença. As pessoas não percebem, mas vivemos - e isso não é nenhuma novidade - em sociedade. Ninguém vive sem a ajuda do próximo. Mas por que penso nisso? Pensar dá muito trabalho. Vou voltar a assistir o Domingão do Faustão que é melhor que eu faço. Ou melhor, vou-me embora pra Pasárgada. "Em Pasárgada tem tudo, é outra civilização. Tem um processo seguro de impedir a concepção, tem telefone automático, tem alcalóide à vontade..."

Wednesday 4 February 2009

AMÉM.

Estava sentado num banco da praça. Eram 14h02min. Um senhor passa por mim e diz:

- Boa tarde, moço.

Educadamente retruco:

- Bom dia, senhor.

- Bom dia?

- É, bom dia, senhor. Por que o espanto?

- São 14h02min, logo é boa tarde, moço!

Minutos atrás estava sossegado, agora perturbado. Olha onde me meti.

- Senhor, hoje é um dia, certo? Independentemente do horário, hoje é um dia.

- Sim, até esse ponto eu concordo, retrucou o senhor.

- Se hoje é um dia e, independentemente do horário, ainda é dia, então BOM DIA!

- Ahhhhhhh! Agora eu entendi. Bom dia pra você também, moço.

E os lingüistas, ou linguistas, ainda acham que a reforma ortográfica revolucionou o Brasil. Se essa conversa fosse nos Estados Unidos não teria essa confusão. Como é sabido, “good morning” é diferente de “good day”. E por falar em reforma, a maldita mesóclise não deixou de existir!
Dar-te-ei meus 6 mandamentos, senhores lingüistas:

1- Para que ter uma língua tão ampla e erudita se a maioria da população não tem oportunidade sequer de estudar? SIMPLIFICAI-VOS o português;

2- Os Anglo-saxões têm uma língua simplificada, mas nem por isso deixam de ser desenvolvidos. SIMPLIFICAI-VOS o português;

3- Que diferença faz escrever lingüiça com ou sem trema se grande parte da população não tem dinheiro para comprá-la? SIMPLIFICAI-VOS o português;

4- Se a intenção da reforma era de unir os países que falam o português, então vamos unir todas as nossas riquezas - inclusive as que Portugal nos "subtraiu" -, nossos problemas e nossa constituição. Afinal, reforma deve ser entendida como o próprio nome sugere: reformulação.
SIMPLIFICAI-VOS o português;

5- Se cada reforma ortográfica tiver uma “complexidade tão vasta” como essa, as grandes editoras vão agradecer, porque é mais lucro para seus pequenos cofres em formato de porco. SIMPLIFICAI-VOS de maneira CORRETA e COERENTE o português;

6- A soberba também é um pecado capital; acredito que essa regra não valha para os lingüistas, todavia. SIMPLIFICAI-VOS o português! AMÉM.

Tuesday 3 February 2009

Liberté, égalité, fraternité.

Várias guerras foram travadas durante os séculos em torno de um ideal: a liberdade. Sans-culotes, Ghandi, Mandela, assim como outros, lutaram para conquistá-la de variadas formas. Liberdade de expressão, liberdade racial, liberdade do voto. Por sua incansável busca, pessoas foram torturadas, povos dizimados, cidades destruídas e tudo isso em prol desse ideal de libertação. Mas a vida, a vida é uma caixinha de surpresas.

Depois de tanto sacrifício, tanta evolução, chega o progresso. E como Bertrand Russel falou “A mudança é indubitável, mas o progresso é uma questão controversa”. Com ele, a profecia de George Orwell – em seu livro 1984 - pode ser deduzida e, talvez, concretizada. Grande parte da população tornou-se aquilo que se chama “massa”. O Estado, como é sabido, controla a massa; a imprensa controla a massa, os políticos controlam a massa.

Vários são os tipos de pessoas que se incluem na "massa". Existem até aquelas pessoas que privam de sua liberdade por 1 milhão de reais, como é o caso dos participantes do programa “Big Brother”. Um cachorro, se formos pensar, tem muito mais liberdade que um ser humano. Veja que, se uma pessoa almeja comprar uma Ferrari, mas não tem dinheiro para efetuar essa compra, ela não adquire o carro. Que liberdade é essa? O conceito liberdade, desse modo, entra em colapso. Quem é o animal racional: o cachorro (que faz o que bem entender) ou homem que acha que faz o que bem entender?