Monday 21 October 2013

O mundo é um moinho ou o moinho e o mundo

Não sou pessimista, eu amo este mundo horrível. (Emil M. Cioran)


Que fazes,
de onde vens?
Sois um,
há milhões.

Novos desafios,
velhas esperanças.

Experiências diversas.

Que importa,
quem se importa?

Perguntas inocentes,
pois,
afinal,
por que se importar?

Nascemos,
vivemos - ou melhor, vivemos... sendo distraídos -,
perecemos
até chegar ao fim da linha.

Existiria algo que podemos chamar de meu ou de minha?

Ficamos à mercê,
vítimas de um lugar
onde todos são
culpados.

E não há espaço
para coitados.








Thursday 3 October 2013

Uma noite incomum


“As cadeias da humanidade torturada são feitas de papel de escritório” (Franz Kafka.)


São 20h30min, o espetáculo vai começar. Pede-se silêncio. É preciso desligar os celulares. Olhares atentos aguardam ansiosamente o início de uma noite planejada metodicamente para ser divertida.
 
- Desrespeitável público, sejam bem vindos ao nosso circo! Nesse espetáculo, diferente daqueles que vocês provavelmente estão acostumados, vocês é que serão os palhaços. Aliás, se ainda não perceberam é assim que nós levamos a nossa vida - a única diferença é que no circo nossos artistas usam maquiagem para, pelo menos, mascarar a vergonha que os cerca.

- Os animais que estão enjaulados aqui também pretendem desafiar vocês com as seguintes perguntas: estariam eles ou nós presos? O domador de leão também não seria domado pelo grande felino? Adestrados, seguimos. Mais sofisticados, menos letrados: escondidos por detrás de nossa rotina, mais uma droga que termina com ina. Com algum pão e circo, afinal é preciso alimentar corpo e a alma, seguimos.

Com algum desconforto, um senhor olha para o lado. Parece não ter digerido bem a inesperada mensagem. Meio esbaforido, sai da sua confortável cadeira e vai em direção à saída junto com sua esposa. Sem prestar muita atenção, chega em casa quase que, digamos assim, em piloto automático – por repetir o mesmo trajeto há mais de algumas décadas, saberia voltar de olhos fechados para seu lar doce lar. Amanhã, pela manhã, voltará a ser o respeitável ser que sempre foi. Antes de dormir, meditou sobre o ocorrido daquela noite:

- Quanta palhaçada!