Sunday 19 April 2015

Água nocturna

A noite de olhos de cavalo que tremem na noite
a noite de olhos de água no campo adormecido,
está nos teus olhos de cavalo que treme,
está nos teus olhos de água secreta.

Olhos de água de sombra,
olhos de água de fonte,
olhos de água de sonho.

O silêncio e a solidão,
como dois animais pequenos que a lua guia,
bebem nesses olhos,
bebem nessas águas.

Se abre os olhos,
abre-se a noite de portas de musgo,
abre-se o reino secreto da água
que emana do centro da noite.

E se os fechas,
um rio, uma corrente doce e silenciosa,
inunda-te por dentro, avança, torna-te obscuro:
a noite molha as margens na tua alma.

(O. Paz)

Monday 6 April 2015

I am not I

"I am not I.
                   I am this one
walking beside me whom I do not see,
whom at times I manage to visit,
and whom at other times I forget;
who remains calm and silent while I talk,
and forgives, gently, when I hate,
who walks where I am not,
who will remain standing when I die."

Juan Jamón Jiménez