Saturday 7 January 2012

Ela me disse assim

- Qualquer semelhança com a música de mesmo nome do Lupcínio Rodrigues e do Jamelão é certamente mera coincidência.





É janeiro. A água de março singularizou-se; chegou no imprevisto, coisa de dois meses antes. Pouco importa, as divinas promessas de vida ainda são juradas. Chove sobre Santiago e outras tantas cidades. Já não mais existem águas em março e a oposição do plural que abriu o despedaçado inverno inverte aquilo que um dia já foi o verão - mesmo sendo janeiro. Vocês verão, assim leu-se numa messagem messiânica-apocalíptica. O dia agora se tornou noite. Eles são 4. Pelas relações de gênero, sendo obrigatório corrigir, é necessário mudar (existem mudanças radicais?) a sentença: elas são, em verdade, 4: primavera, verão, outono e inverno. Às 4 horas, fora marcado um encontro numa das estações. Cada uma leva para um destino (em algum momento eu sabia que poderia ser comprovada a existência de um destino!) diferente. Especula-se também que há volta. Corre-se, no entanto, o risco de voltar por outros caminhos, por outros destinos, podendo variar bastante, sendo bem difícil de se repetir - querendo fugir da repetição, tendemos a experimentar e acreditar que as demais experiências serão novas... E, o que é inevitável, também leva mais tempo. Depende do destino, por certo. Enquanto se pensa, a fila anda. Por mais que possa demorar, a fila sempre tende a andar... Chegou a minha vez. São 4 horas e alguns minutos. Apenas algumas pessoas na minha frente. Faz frio, chove, suo e dão-me calafrios só de pensar. Estou numa fila no aeroporto e finalmente é chegada a minha vez.



- Senhor, pergunta misteriosamente a funcionária da companhia aérea, qual é o seu destino?


Bem, hesitei em respondê-la por alguns segundos, ainda não sei bem. Descobri somente agora, continuei dizendo, que a volta, seja ela qual for, custa mais...

É, ela me disse assim, como se fosse uma cartomante: nem sempre é fácil voltar para o mesmo destino...