Friday 28 December 2012

Impressões

Filhos da realidade mijada,
nascidos sob a égide
quase que determinista
onde os ensaístas de 30
beberam dessa água,
talvez a mesma
que passarinho não bebe.

Há grandes diferenças:
ricos, o abismo e a plebe

Seríamos iguais?
Marquês de Pombal,
um homem nobre
com intenções opacas e pobres,
"sugeriu" acabar com a língua geral

Alguns passarão,
a grande parte passarinho.
Há muitos estranhos no ninho
Mas quem é a mãe dessa pátria?

Antropólogos de varanda
e outros tantos sujeitos,
com projetos em papéis,
bebendo cupuaçús e outros frutos,
mostram os defeitos

Somos criados para o imediatismo
- capitalismo e outras ilogicidades -,
mas nos pedem paciência
a longo prazo.

- Cala-te, meu jovem,
estás a passar entre 
o Rio Negro e Solimões:
veja a obra do todo poderoso e
como ele é bom
para o nosso povo...


Manaus,
Dezembro de 2012






Thursday 6 December 2012

O que vêem aqueles que não crêem?

Nos ternos bem ajustados, falácias. Nas reticências, um ponto final. Acenos, gestos, egos. O repetir-se. Quem dera o retorno não fosse eterno! Mas assim o é. Há neblinas, gravatas etc. Qual é a sua graça? Uma pergunta não muito importante desde que você tenha posses - aquilo que te possui e não aquilo que você é. O dever ser e, desse modo, substituído pelo dever ter. Ter ou não ter, eis - imposta - a questão. Onde vamos parar?, perguntaria algum crítico. Por acaso já não estaríamos parados?, responderia algum cínico.

Thursday 8 November 2012

Semiótica do amor

Na calada, o frio. Há pedaços de mim que clamam. Em uma viela, o encontro com o acaso. Na confusão das línguas é possível encontrar calor. Envoltos no caos linguístico, a paixão toma forma, apesar dos ventos contrários. Alienados, na calada, mudam-se para a pátria nascente da ordem e do progresso. A revolução do proletariado é ínfima quando equiparada ao amor pequeno-burguês.

Friday 26 October 2012

Seria o processo de adaptação uma forma sutil de resignar-se?

Tuesday 16 October 2012

Fragmentos, protestos e protestantes

A experiência é uma ferida que custa cicatrizar. No corpo, o silêncio é grafado com as marcas do tempo. Rugosidades denunciam a arte do contemplar. Nos lapsos de memória, vem-me a lembrança: antes de encontrar-te, deixaram que eu me carregasse em duas partes. 32kg de mim, somando-se 64 quilos, e um deserto azul a ser atravessado. Não pude levar todos os meus pertences, aprendi desde cedo a pouco protestar. Destino?, perguntaram-me em um inglês anti-estrangeiro. Como explicaria o que seria o meu destino a um provável protestante se eu mesmo não saberia onde aquilo ia parar? Na mão suada, um carimbo que tinha custado meses da minha existência. Sorri um riso dissonante e, ao sair dali, segui as placas que indicavam o caminho que eu deveria seguir. Qual seria o melhor? Era apenas o começo.  

Friday 14 September 2012

Você conhece o silêncio?

O homem sem ilusão é aquele que, tal qual o palhaço que não ri, não encontra fundamento na própria arte que exerce. Não é mais surpreendido por defunto autores ou autores defuntos. É quieto, uma vez que a sua antiga inquietude já havia ocupado lugar demasiado quando ainda jovem. Não é imortal, mas também não tem idade. Algo de mistério circunda-o. É impaciente demais para tagarelar com os camaradas que pretendem mudar o mundo com goles de cerveja e alguma medicina natural no bolso - esta servirá para acalmar os ânimos na melancolia do dia posterior. Isso, já não mais compartilha desses "ismos" que cabem num bolso de tão pequenos quando equiparados à totalidade.  Desconfia que há algo mais. Deixa-se levar pela simplicidade das coisas que considera de maior valia e tenta não mais se enganar por objetos que reluzem - tal qual profanos, quando ludibriados pela racionalidade, o fazem. Em meio ao escombros, ainda há fôlego, mas pouco se tem dito. Maldito hábito de tagarelar. A água do rio corre, mas se não houver o sacro silêncio, como irás, profano ser, tudo isso aproveitar?

Friday 24 August 2012

Trechos de uma vida a dois

          O fato que será descrito é verídico e foi narrado por uma testemunha ocular que pelas circunstâncias atuais - às vésperas das eleições dos municípios - prefere não se identificar. Aconteceu há mais de um ano, abaixo do Trópico de Capricórnio, quando o sol estava prestes a fazer seu sacrifício diário: ajoelhar-se perante à lua. Pela meia dúzia de pessoas que podiam ser vistas caminhando nas ruas, podia-se dizer que fazia frio ou era domingo. Às margens da Av. Beiramar, um casal andava de mão dadas enquanto tantos outros casais desatavam as mãos. Fazia frio e era domingo, antes que o leitor se pergunte qual relevância isso teria na narração dos acontecimentos.

          Um casal andava de mãos dadas, apesar de todas as intempéries do trópico, do sol, do frio e da vida. Entregues à luz solar, eles seguiam o curso natural da vida: nascer, reproduzir e morrer. Exilados do ventre materno, aprenderam a tríplice idéia que lhes fora forçada a engolir junto com as demais refeições diárias e algum óleo de fígado de bacalhau. Andavam com a naturalidade que também foram forçados a aprender. - O que seria da humanidade se não existisse a barbárie? Em meio à todo silêncio, sempre há espaço para alguma pergunta ensurdecedora...

          Sentaram-se. Ambos. Parecia que o mundo acabava ali. Acomodaram-se num banco de madeira meio surrada, provavelmente feito por mãos sofridas e também surradas. Estavam confortavelmente acomodados e sabiam que pouca coisa fora daquele metro quadrado - o banco de madeira, as mãos, as mães etc - poderia ser modificada. Estava frio e era necessário um mate. Em frente ao mirante da Av. Beiramar, o casal não se importava muito com o que acontecia ao seu redor a não ser o conforto do banco, o mate quente e os beijos molhados.

          Tudo transcorria bem. Parece-me, no entanto, que certos casais têm uma certa tendência à catástrofe. Podem, assim, despertar a ira de certos deuses em momentos inoportunos. Sentados naquele surrado banco, acompanhados de um bom chimarrão, o casal começou a relembrar do passado, das pretéritas experiências românticas, uma forma covarde de invocar o deus Khronos. Seria relembrar o passado o maior ato de desespero? Lembremos do presente...

         E essa história termina aqui. Pelo menos esse trecho. Os beijos e as trocas de carícias do casal foram interrompidas pelo castigo divino. Dizem que houve, entre eles, alguma desavença. Vá saber! Sobre o casal, aliás, nada mais sei. Fim.

Monday 23 July 2012

Being blue

*




I have got a power. At least I can feel it. As if...! It drives me crazy. I drive. I, crazy. An electronic music goes deep into my mechanical feelings. No thoughts at all. I love, I hate, I might have... Been mistaken, which doesn´t make much difference, even though I have no (the F word) clue. I might be blue. What are colors but a perception? In this colorful world, the Infinite ends up laughing at us and our finite sensation of being powerful - We´ve forgotten our human condition. 
















* Picture from "The fountain".

Saturday 19 May 2012

Meios e fins

A leveza conduz os caminhos desacreditados para a plenitude. Há luz. Apaixonar-se, tropeçar novamente com a paixão, são fraquezas que nos confortam, não obedecem regras e confusamente fortalecem. Depois das quedas, sejam católicas ou pagãs, oportunidades de se recompor surgem. Queimam, cicatrizam; tornam-me meios de reflexão.

Wednesday 9 May 2012

O ser e a roda

Apesar de afirmarem que a roda é uma criação humana, as forças naturais contestam. Estás enganado, diriam. Retrucam diretamente e com pouca eloquência. Dizem que a invenção da humanidade ou da roda são apenas distrações e que pouco importa saber quem os criou. O mistério está contido na simplicidade do funcionamento dos mecanismos: Se giras, ela gira, nós giramos. É preciso chamar a atenção para a existência de diferentes caminhos, caminhos de todos os tipos, por onde se pode passar. Também existem atalhos, mangues e detalhes. Os primeiros giros são tortos. E a caminhada é longa – dizem que duraria uma existência para perceber que o elemento causador da mudança é a erosão. Vai, vem, vai e volta. Retornos pelo um mesmo caminho feitos de forma diversa solidificam aquilo já consagrado como eterno: a roda gira.

Wednesday 11 April 2012

translating babel

It's an unusual behaviour. Something that I've never seen before. They say there's some kind of different background. She acts. In fact, she is, she doesn't etc. Poetry describes words of despair; acts, passion. Her desire of being alive is linked to love. It flies as a peaceful dove. Or transcends. Her eyes burn, it is difficult to turn and not to appreciate her beauty: how she walks, talks and is.

Tuesday 10 April 2012

Dons de um quixotesco ser


O moinho é um mundo. Ou o mundo é um moinho. Há quem discorde. Existiriam dons? Sons da curiosidade que não levariam a muitos lugares. Masturbações mentais são saudáveis quando acompanhadas com grãos não trangênicos de cevada. - Talvez isso não te leve a nada. Mas é o nada que precisamos. Nada precisamos? Lutas com o moinho e contra a ti mesmo, gigante! Fostes mentalmente imaginado por um cavaleiro da triste figura. Tens o dom da auto-ilusão, uma dádiva divina. O moinho certamente modificará a realidade e trará novos ares para novos gigantes de outros tantos cavaleiros.




Pintura: Gustave Dore

Thursday 5 April 2012

Remember, remember...

Technologies such as social networking were created to remind us how to share ideas, tastes, tears, experiences - what's in your mind? What can be seen is nothing more than our capacity to transform our blindness into few useless theories which can be discussed while we're drinking some beer and waiting some miracle from Someone who must have felt a necessity to share his/her feeling of nothingness, a state of mind.

Monday 2 April 2012

Brave old worlds.



What is futile we seek. Our existential cliché: to seek. Thoughts come across without having any meaning. Our essential condition: to be sick of... Us. Or ourselves. Thus, is discovered another verb: to find. The Love already existed before any reasonable explication. So, it is given to us perception. The perception of loving. It's not necessary to show off your sick seek - there's so much beyond what isn't normally seen. Life - it must be rediscovered.



Picture: Reinaldo Murata.

Friday 16 March 2012

Ponto-ação ou lupanares da meia-noite.

(Re)Constituídos de pontos. Destituídos de outros tantos. Pontos de visão, pontos de fusão, pontos de encontro. Pontos. Separados por algumas vírgulas, ponto-e-vírgulas ou dois pontos: Não, definitivamente não estamos prontos. Há os poréns, todavias, quase todas as vias a viver. Erros crassos de uma ortografia às avessas da (ir)real situação: constituídos de pontos, escrevinhadores de trágicos contos e senhores da nossa embriagada razão. (30.11.11)

Movimentos

Barbaridades civilizadas sugerem um entendimento barroco. O renascimento do individualismo feudal popularizou-se, expandiu-se e acabou se tornando democrático. Socializou-se a idéia de que o presidencialismo é uma anarquia só. Criaram, por sua vez, reinos e céus onde deuses supostamente governam com o auxílio de angelicais - nossos caros amigos ou amigos caros para nós? - parlamentares. Elementares governos. Desgovernados elementos. Clãs, grupos, ideologias e outras tantas formas de movimento. Em detrimento da essência, a nossa aparência é aparentemente construída pelos nossos detritos do ser... A ciência, uma religião pagã, comprova: a terra está em movimento, mas os que nela parasitam, digo, habitam... (11.01.12)

O retorno de Melquíades

- What do you see when you don't see anything? (Deleuze)




Pela calçada que tantos andastes, agoras deslizas pela esperança branca que sobrepassa o cinza-esquizofrênico e a negra desilusão transmitida no dia-a-dia doentil e endêmico. As cores da vida são frutos de Kairos. As cores da morte são divindades de Chronos. Adiciona-se o branco no negro e obtém-se o cinza. O sobreviver como parte da existência. O sofrer quando necessário para a transcendência do ordinário. A descrença sofridamente sobrevive. A consciência é despertada: Aparício observa tudo enquanto toma um mate bem quente em seu paradeiro - já é suficientemente letrado para saber que cada exílio carrega um prazo. Acusam-no. Quem? Difícil de encontrar. Situam o conforto por desconhecer o exílio. Esquecem da renúncia. Diziam que não sobreviveria. Agora, depois de aproximar-se da amiga solidão, aguarda o retorno de Melquíades. Tornara-se, tal qual o amigo que está prestes a retornar, quase um cigano; sem a habilidade de prever o futuro, no entanto. (02.09.12)

Wednesday 7 March 2012

O incorruptível Senhor, seus cruéis servos e alguns números.

Nem tudo o que reluz é ouro. Nem tudo o que se vive é par'outro. A juventude acostumou-se a apressar. O Tempo a destrói. A relação de poder minimizou a juventude de ouro em páginas de livros de auto-ajuda. Micro-análises sugerem macro-esforços. Transcendeu-se na imprecisão. Foi preciso. Bebeu-se da fonte poluída do saber, uma corruptível arte. O esforço é em vão. Aprende-se mesmo apenas com o destrutivo Tempo, dividido em cruéis ponteiros, senhor e criador de herdeiros de uma nostálgica geração.

Friday 17 February 2012

Roads, dogs, cats or any sort of stuff.




Sounds from abroad - sounds good! Oh, god! Oh, my dog. My dodgy good! Consonants were flying separately from vowels. Well, something should be said; it wasn’t, although. Oh, my dog! As usual, silently I’ve noticed a pedestrian crossing some road. Coincidently, it was called “Life’’. The Life lied on somewhere else. Before doing any sort of stuff, I had wondered how would that man cross it? Depending – we are all dependents… - how it is chosen. Seemed he would have loads of possibilities. While walking, the pedestrian caught some consonants and vowels from the sky, crossed the road and wrote in the wall some sort of old fashioned utopia from centuries ago: Liberté etc.

Thursday 2 February 2012

- Inspirado n'O Homem da multidão (Poe).






Algumas décadas para se construir. Alguns anos para se desconstruir. Outros tantos para renunciar e se destituir. Poucos segundos, em último caso, para se auto-destruir. Medem-se as palavras. Descobriu-se o valor de cada sílaba. O lugar de cada parábola, de cada ponto e de cada vírgula. Décadas são necessárias para perceber que o precioso é o que pouco se fala ou que pouco se sabe. Fala-se o necessário depois de experimentar no silêncio. O paradoxo do sentir-se só na multidão. Compartilha-se com poucos. Representa-se para muitos. Se o mundo é, como disse Foucault, um hospício, sejamos pacientes, sejamos seus pacientes, à medida que a felicidade nos será dada em pequenas doses mensais - o carnê da ilusão não se esgotará tão facilmente...

Saturday 7 January 2012

Ela me disse assim

- Qualquer semelhança com a música de mesmo nome do Lupcínio Rodrigues e do Jamelão é certamente mera coincidência.





É janeiro. A água de março singularizou-se; chegou no imprevisto, coisa de dois meses antes. Pouco importa, as divinas promessas de vida ainda são juradas. Chove sobre Santiago e outras tantas cidades. Já não mais existem águas em março e a oposição do plural que abriu o despedaçado inverno inverte aquilo que um dia já foi o verão - mesmo sendo janeiro. Vocês verão, assim leu-se numa messagem messiânica-apocalíptica. O dia agora se tornou noite. Eles são 4. Pelas relações de gênero, sendo obrigatório corrigir, é necessário mudar (existem mudanças radicais?) a sentença: elas são, em verdade, 4: primavera, verão, outono e inverno. Às 4 horas, fora marcado um encontro numa das estações. Cada uma leva para um destino (em algum momento eu sabia que poderia ser comprovada a existência de um destino!) diferente. Especula-se também que há volta. Corre-se, no entanto, o risco de voltar por outros caminhos, por outros destinos, podendo variar bastante, sendo bem difícil de se repetir - querendo fugir da repetição, tendemos a experimentar e acreditar que as demais experiências serão novas... E, o que é inevitável, também leva mais tempo. Depende do destino, por certo. Enquanto se pensa, a fila anda. Por mais que possa demorar, a fila sempre tende a andar... Chegou a minha vez. São 4 horas e alguns minutos. Apenas algumas pessoas na minha frente. Faz frio, chove, suo e dão-me calafrios só de pensar. Estou numa fila no aeroporto e finalmente é chegada a minha vez.



- Senhor, pergunta misteriosamente a funcionária da companhia aérea, qual é o seu destino?


Bem, hesitei em respondê-la por alguns segundos, ainda não sei bem. Descobri somente agora, continuei dizendo, que a volta, seja ela qual for, custa mais...

É, ela me disse assim, como se fosse uma cartomante: nem sempre é fácil voltar para o mesmo destino...