Tuesday 28 December 2010

Gênio é industriosidade!*

Mestre Cacá,

você me ensinou a Nietzsche ler: Pela manhã, você dizia e infelizmente não mais me diz, leia-o. Acompanhado de um bom café, é claro. Pai patrão, Delicatessen, Bagdad café... Quantos e quantos filmes me indicastes. E teus ensinamentos, ao longo da nossa amizade, ainda guardo: Não sejas trouxa, Luccas!

Ai que saudade ingrata!






* Título que faz menção ao texto Relógio normal - Walter Benjamin.

Thursday 23 December 2010

Lei do silêncio.

à g.



Um silêncio nostálgico, estranho corrói. Muito estranho. Um sem-sentido, uma razão inexistente. E você, rosa, silencia. A cada encontro você silencia. De toda circularidade das minhas idéias - sim, ainda tenho sido circular! - você silencia. Até quando? Dentro desse círculo vicioso, destaco sua solidez, ou melhor, seu sorriso continua sólido. Mas ainda não compreendo você. Seus gestos, creio, ainda não te denunciaram e você prefere silenciar. Uma pausa, por favor, o silêncio que você faz deseja se manifestar...

Saturday 11 December 2010

Trocando em miúdos

É-me confortável observar e, na condição de mero observante, nada fazer. Enquanto escrevo, minha expressão se modifica e é-me dificultoso inscrever.
Apoiando-me em cima do pai da História, Heródoto, minha escrita lentamente se expressa. Sim, nós, sujeitos atuais, temos pressa.

Música "típica", rostos iguais - seríamos mesmo iguais? -, sorrisos amargos.
Como poderíamos ajudá-los? Dê a eles, arrisca um candidato a sábio, pão, circo, folhas de coca e alguns trocados bolivianos.

Morrer em tempo? Assim falou Zaratustra. Se vais morrer, por que nasces?




Valle Serrano, Bolívia - 10.12.10

Ernesto


Tu deixastes teu legado,
propagastes a esperança,
não deixastes o inimigo te abater.

Criastes a paz onde não havia,
mostrastes a vida com alegria,
ensinastes aos camaradas a viver.
Univo-nos!






La Higueira, Bolívia - 09.12.10

Thursday 2 December 2010

Poucas memórias de um navegante terrestre.

Acabo de sentar. Na varanda, ao lado de minha estante e meu charuto, fica minha cadeira predileta. E é nela onde acabo de me sentar.

Os dias, a chuva, a tempestade. Para mim, não há nada novo. É quase que um ciclo: as novidades, agora, são peças de museu. A tentativa do novo já é uma velha conhecida - talvez tenha minha idade, não sei bem.

Enquanto falo, caros leitores, minha memória, por vezes, faz-me esquecer de me apresentar e ser apresentado. Ainda não disse meu nome, tampouco minha idade - e para que me serve todo esse cerimonial?

Já me imaginei médico, advogado e - vejam só! - até filósofo. Daquilo que me permitiram ser, tornei-me um pouco disso tudo: um pouco machista, um pouco patético... Tornei-me agricultor.

A idade avançada já me fez definhar, já me fez questionar e nada saber. Hoje, apenas hoje, navego. Navegar é preciso - algum(a) Pessoa escreveu isso. Em meu pensar, durante algumas infinitas horas, navego. A fuga é necessária, o discurso é em vão... Dele, do discurso, arranco apenas títulos; de estupidez, decerto. Vã sabedoria de um navegante que, assim como eu, navega no plano terrestre.





Tranqui,
escrito em algum lugar e em alguma data do ano de 2010.