Friday 15 October 2010

Uma confissão e, no meio, há muita (e não é eufemismo!) confusão.

Tive a impressão de que a mudança seria brusca,
que compreendido seria
e que tudo mudara.

A auto-compreensão é a tarefa mais desumana de todas!

Mundana, boêmia, errante tem sido minha existência.
A minha essência, hoje, encontra-se em partículas.
É preciso gotejá-la, retorcê-la
e rezar para que de algum modo apareça.

Falar de si,
sofrer sobre si.
Nego, renego a existência d`Ele.
E cá entre nós: és egoísta ao invocá-lo.
Mas quem não é?

Naquela fração de hora me enganei, fui fraco - confesso.
De regresso à casa, vejo que nada mudou.
Mas o que muda?

Os pós-modernos, numa passagem apocalíptica-messiânica, atestam:
com a ruptura,
o fim está próximo, acaba-se o tempo (próspero) e
vive-se numa amarga e nostálgica ilusão.

Friday 1 October 2010

Ex-cravo

Estive preso durante algum tempo. Um bom tempo. Alguns fatores faziam-me estar naquele estado. Não pude explicar, mas estava preso. Que asco! Uma má sensação tive. Em verdade, não sabia se era má ou não. Sufocado, sob a égide das leis "naturais": xilema, floema, seiva bruta. Altos e baixos. Fatores alheios, universo em pleno desencanto.

Eu tentava, repudiava, e continuava preso. Alguém que não conhecia tentou me libertar. Eu, assim pensei, com a ajuda desse ser, me libertei.

Já fui de tudo um pouco. Agora restavam-me lembranças. O resgate, assim me ensinaram, seria impossível. Não resgatei minhas lembranças...

Imerso no meu saudosismo, juntei o que restou: um pouco de cada. Tive saudades da minha pátria amada que não era o Brasil. Atravessei um rio chamado Atlântico. Mudei meus costumes. Moldei meus costumes.

Conheci sujeitos antes inimagináveis. Trajavam vestes estranhas, talvez não tivessem - vai saber! - entranhas. Pomposidades alheias, disseram-me que eu me libertei de minha terra.

Agora sou um ex. Ex-africano, ex-algo. Eu, que um dia fui planta, sou ex. Em minha terra, era um belo cravo - nunca briguei com a rosa! Agora sou um ex, ex-cravo da (na)Ilha da Vera Cruz.